| CRÍTICAS | Presa Fácil

Uma das cápsulas do tempo que melhor define o que foi a década de 90 é a das super-modelos. Hoje pouca gente parece lembrar-se, mas quem viveu os 90’s certamente se lembra da presença mediática e (quase) omnipresente de mulheres como Claudia Schiffer, Naomi Campbell ou Linda Evangelista na cultura popular ocidental. Não é que o termo fosse novo, mas nunca estas pessoas se tinham destacado tanto por serem simplesmente bonitas. Por isso, quando George Michael reuniu cinco dessas super.modelos para o vídeo do seu Freedom, rodado por David Fincher, o mundo quase que implodiu.

Cindy Crawford foi uma das chamadas super-modelos originais e, em 1995, transpôs a fronteira do audiovisual para estrelar em Presa Fácil, que é, ele próprio, também uma genuína cápsula do tempo do cinema dos anos 90, com William Baldwin como protagonista masculino. Foi o único filme de Crawford e basta ver Presa Fácil para perceber porquê. É que tem tanto jeito para representar quanto Michael Cera. Oh wait…

Presa Fácil é um action flick tradicional, em que um polícia destemido, pouco ortodoxo nos seus métodos de actuação e com uma vida pessoal em rombos (são os resquícios do film noir e dos seus detectives traumatizados – olá Raymond Chandler) tem de proteger uma testemunha de um crime conta um inimigo aparentemente desigual em força e poder. O polícia é Baldwin, a testemunha é naturalmente Cindy Crawford (uma advogada civil que não tem a mínima noção porque tem um alvo nas costas) e o inimigo é um ex-KGB (Steven Berkoff) altamente cruel.

O argumento de Presa Fácil não é propriamente subtil e a sua economia narrativa de série b leva-o a ser demasiado descritivo. Por exemplo, a primeira vez que somos introduzidos ao vilão da história, o seu sócio faz logo questões de fazer uma apresentação completa: olá Coronel Ilya Pavel Kazak, ex-espião do KGB, fugido em Havana. Isso é porque o realizador Andrew Sipes não nos quer a gastar muita energia a pensar, para que possamos apreciar em pleno as suas sequências de acção.

Ele, que também só teve esta experiência enquanto realizador (I wonder why), coloca todo o seu esforço e dedicação nas explosões, nas perseguições automóvel e nos tiroteios. E, verdade seja dita, até há alguns momentos bem sucedidos. Mas depois de passar metade do filme a tentar matar Cindy Crawford de mil e uma maneiras diferentes – incluindo explodir o seu apartamento, invadir uma safe house e abater uma série de polícias ou tentar alveja-la em ruas apinhadas de civis -, o que é que eles fazem quando a conseguem apanhar? Façam o que fizerem não a magoem, ordena Berkoff. Tudo porque é necessário que o vilão explique o seu plano e as suas motivações antes do desenlace final, à boa maneira do síndrome dos inimigos de James Bond.

Pelo meio há ainda uma pausa para a inevitável cena erótica entre Crawford e Baldwin, para mostrar um pouco de pele da primeira – e que, na realidade, é o único motivo pelo qual este filme foi feito. Também há uma cena em que os dois fazem uma pausa na sua fuga pela vida, para que a primeira possa trocar de t-shirt *wink wink*. Ou seja, nada que fosse anormal no cinema de acção dos anos 80, mas que, na década seguinte, surge sempre com um certo charme datado. Mas mesmo assim quem é que não sente necessidade de levar para casa um Cheeseburger destes de vez em quando?

Título: Fair Game
Realizador: Andrew Sipes
Ano: 1995

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