| CRÍTICAS | Boogeyman

O Papão é o medo primordial projectado numa criatura, que, por isso, pode assumir qualquer forma e canalizar todos os traumas e receios de quando somos crianças. Stephen King sempre gostou deste tipo de medos, assim como sempre gostou de fazer das crianças e dos jovens os protagonistas das suas histórias. Normalmente, são jovens incompreendidos ou negligenciados pelos adultos, que por isso têm que resolver os seus problemas sozinhos. Por isso, é mais do que natural que um filme como Boogeyman tenha saído de uma história sua.

Em Boogeyman, a familia Harper é a protagonista. Trespassada pelo trauma da morte precoce da mãe, num acidente de viação há um ano, os Harper estão assim mais susceptíveis a serem aterrorizados por uma presença maligna que se alimenta do medo e da perda. E como as crianças são as primeiras a serem atacadas, são elas que o baptizam: Boogeyman, ou seja, o Papão. Apesar de haver um pai na história (Chris Messina), ele quase nunca está presente. E não é por ser particularmente um pai ausente, é antes porque esta é uma daquelas aventuras adolescentes. Se isto fosse um episódio do Tom & Jerry, o pai seria sempre filmado com a cadela fora do plano. Sadie (Sophie Thatcher) tem então que colocar as mãos na massa e salvar o dia, se não quiser que a irmã mais pequena (Vivien Lyra Blair) seja comida por essa criatura que vive nas sombras.

Sabemos que esta não é uma história propriamente nova, mas ninguém estava à espera que Boogeyman fosse uma reciclagem tão grande de elementos de outros filmes. De tal forma que parece não ter sequer uma identidade própria, o que até é estranho tendo em conta que o realizador Rob Savage, no seu filme anterior – Dashcam, um found footage em movimento e em directo para a internet -, podia ser acusado de muita coisa menos de não arriscar. Boogeyman vai buscar toda a atmosfera do Stranger Things (sintetizadores na banda-sonora e tudo), tem luzes de Natal a piscar e tudo como a Wynona Rider na primeira temporada, a criatura parece O Senhor Babadook a sair das sombras e até cita Arnie em Predador(!): If it bleeds, we can kill it.

Rob Savage confia demasiado no ambiente do seu próprio filme, mas depois limita-se a orientar tudo para umas cenas de susto e muito breu, ou não fosse esta uma ameaça que vivesse nas sombras. No entanto, está sempre escuro em Boogeyman. Até mesmo quando é de dia está escuro. Por isso, a outra família que, inicialmente, é assombrada pela criatura arranjou uma forma incrível de manter a casa iluminada: velas. Uau! Que pena o filme não se passar no século XXI, após a invenção da electricidade. Mas o pior é mesmo a natureza do Papão. É que, afinal, ele é assumidamente um bicho qualquer, que, se sangra, pode ser morto. E se pode ser morto, é com tiros e explosões. Mesmo que consiga estar em dois sítios diferentes ao mesmo tempo, Boogeyman assume que essa criatura é uma presença física(!). Como? O que é que isso interessa mesmo. E, por isso, termina tudo como um qualquer normal filme de acção, que resolve tudo à fogachada. Ok, eu sei que o Happy Meal traz um presente, mas quem é que me devolve o tempo perdido que gastei com isto?

Título: Boogeyman
Realizador: Rob Savage
Ano: 2023

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