| CRÍTICAS | As Corridas Loucas de Ricky Bobby

A cultura e a sociedade norte-americana é baseada em dois pilares: a velocidade e a violência. A primeira tem a ver com a vastidão do território, que faz parte do ADN dos norte-americanos; e a segunda está associada à fundação da América, sob o sangue dos indígenas e assente na corrupção, na bandagem e em agiotas (vide Gangues de Nova Iorque). Não admira, portanto, que todos os desportos populares na América tenham que ser o mais rápido possível e, de preferência, com muita porrada ou destruição.

As Corridas Loucas de Ricky Bobby resume todo este parágrafo numa só frase, que abre o filme: America is all about speed. Hot, nasty badass speed, citação da antiga primeira dama Eleonor Roosevelt. E isso introduz-nos ao mundo da Nascar, um dos desportos mais populares do sul dos Estados Unidos e que As Corridas Loucas de Ricky Bobby não só parodia, como utiliza como sátira ao próprio país.

À superfície, As Corridas Loucas de Ricky Bobby é mais uma das comédias patetas de Will Ferrell e Adam McKay, mas tal como O Repórter (outro dos títulos de ambos), há mais por baixo daquele humor básico. Não admira que esta seja uma das comédias favoritas de Christopher Nolan, realizador conhecido pelos seus filmes super-sérios, o que choca muitos dos seus fãs mais sisudos. Ricky Bobby (Will Ferrell) é assim a personificação do great american hero, o undersgo que chega ao topo da Nascar lutando contra todas as adversidades e tornando-se maior do que a própria modalidade, com a sua esposa-troféu, os filmes Walker e Ranger do Texas(!) e uma esperteza saloia que deixa muita a desejar à inteligência.

Temos sempre a ideia de que as comédias de Ferrell são especialmente escatológicas, mas esse é um daqueles preconceitos que não têm razão de ser. É certo que a sátira é a sua arma principal, mas Ferrell também gosta de abusar das situações ridículos, indo além do timing da punchline, estendendo as cenas até ao desconfortável. Quem é exímio nisso é Sacha Baron Cohen e, por isso, quando surge em cena como o nemésis francês e homossexual que vem abalar o mundo da Nascar e o sul conservador dos Estados Unidos, tudo passa a fazer ainda mais sentido.

As Corridas Loucas de Ricky Bobby consegue fazer rir e leva-se tão a sério que filma as cenas das corridas como uma sequela ainda mais autêntica de Dias de Tempestade. Quem não gosta de As Corridas Loucas de Ricky Bobby é porque não tem gostos. Até Nolan concorda com este McBacon.

Título: Talladega Nights – The Ballad of Ricky Bobby
Realizador: Adam McKay
Ano: 2006

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