Ainda mal vamos em 20 minutos de filme e já se fartaram de acontecer coisas em Triângulo. Apesar da abertura algo sonâmbula, em que não entendemos realmente se Jess (Melissa George) está acordada, a sonhar ou a recordar-se de coisas (uma birra do filho autista, uns planos aleatórios da praia, alguém que toca à campainha e foge…), rapidamente saltamos para um passeio de barco, na companhia de mais 5 amigos. De repente, o vento para, uma tempestade surge sem aviso, o barco afunda, uma das amigas desaparece e os sobreviventes são resgatados por um paquete que surge no horizonte. Mas o navio está deserto!
Uff… demasiadas coisas a acontecer e nem todas parecem pertencer ao mesmo filme. Mas isso é a estratégia do realizador Christopher Smith, que a partir daí começa a encaixar as várias peças do puzzle, ao mesmo tempo que vai destacando outras tantas pistas. O filme vai estar nisto até ao final e mesmo quando nos revela um dos seus vários twists, isso não significa o encerramento total de um arco narrativo. É antes mais um degrau nessa escadaria que nos permitirá chegar ao topo e, aí sim, ter uma imagem de conjunto desse dispositivo fílmico, que nos permite compreender na totalidade o filme.
É que Triângulo é um filme sobre viagens no tempo e loops temporais – com referência pertinente a Sísifo, condenado a repetir interminavelmente a mesma tarefa durante toda a sua existência -, que, tal como Primer, mostra que a melhor ficção-científica não necessita de grandes efeitos-especiais. Aliás, Triângulo é um pequeno filme de baixo orçamento, que se orgulha de ser o primeiro filme australiano de viagens no tempo e que é uma espécie de versão mais violenta (e sangrenta, ou não estivéssemos na terra da ozploitation) de O Feitiço do Tempo.
Existem alturas em que tempos a impressão de que as personagens de Triângulo entendem o que se está a passar mais rápido do que nós e isso pode ser um pouco frustrante, mas sempre que isso acontece, Christopher Smith apressa-se a tirar mais um coelho da cartola e encaixa mais uma peça no puzzle, tornando tudo momentaneamente mais satisfatório. No fim, temos à nossa frente um óptimo retrato de conjunto, do qual não estávamos propriamente à espera. Estes Le Big Macs sabem, por isso, bem melhor.
Título: Triangle
Realizador: Christopher Smith
Ano: 2009