| MOTELX | Perpretator

Uma coisa que acontece muitas vezes nas primeiras obras é o realizador, num misto de entusiasmo por estar a fazer o seu primeiro filme e de receio em poder não voltar a ter outra oportunidade como essa, perder o controle do que está a fazer e misturar todas as ideias que coleccionou até aquele ponto. Perpretator é um filme que parece sofrer desse síndrome, se bem que a realizadora Jennifer Reeder já fez outras coisas antes (maioritariamente curtas, filmes para a televisão e para serviços de streaming e Knives and Skin, um teen-neo-nor místico de acordo com a descrição oficial): é filme de adolescentes, é um coming of age, é filme de vampiros, é body horror à Cronenberg…

Perpretator é tanta coisa que, como seria de esperar, chega ao fim e não é propriamente nada. Tal como esse Knives and Skin, é também uma espécie de teen-neo-noir místico, sobre uma miúda (excelente Kiah McKirnan) que vai viver com a tia-avó (Alicia Silverstone em modo tiazorra) e que descobre que pertence a uma linhagem milenar de mulheres que tem um dom – o foreving -, que lhes permite absorver as emoções de terceiros. Como se isso não fosse já informação demasiada para uma adolescente assimilar, há ainda um serial killer à solta, que rapta adolescentes para lhes retirar pedaços do corpo para enxertar na namorada, que obviamente Kiah McKirnan vai ter de deter.

Como qualquer teen movie do género, Perpretator utiliza o terror e o fantástico como metáfora para o coming of age daquela miúda, que ao fazer 18 anos lhe é explicado que tem um dom, depois da tia a fazer comer um bolo com sangue(!). Porquê? Ninguém sabe bem. Aliás, esse é apenas um dos vários elementos esquisitos que surgem e desaparecem logo a seguir, sem qualquer explicação. Outro exemplo é quando Alicia Silverstone confronta a sobrinha com umas coisas que ela tinha roubado na escola e a obriga a comer um baton. Porquê? Ninguém sabe, mas resulta em mais uma das várias cenas de body horror de Perpretator, filme cheio de fluídos e altamente sanguíneo, tão escarlate que por vezes parece um giallo.

Aliás, Perpretator tem várias vezes explosões de esquisitice que parece que o Panos Cosmatos irrompeu ali adentro, atirou a realizadora para um canto e assumiu as rédeas durante uns quantos segundos. Isso confere-lhe um ambiente de estranheza que contribuem para o desclassificar, mas também para escavar um fosso cada vez maior entre o filme e o espectador. No final, não temos muita coisa que queiramos recordara ou aconselhar além do Happy Meal.

Título: Perpretator
Realizador: Jennifer Reeder
Ano: 2023

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