| CRÍTICAS | Efeito Borboleta

A teoria do caos, que diz que o bater de asas de uma borboleta pode provocar um furacão no outro lado do planeta, é uma das teorias que o cinema mais adora. Só não digo que é a mais popular porque, recentemente, assistimos a uma obsessão por aquela que especulava que, se só usamos 70 por cento da capacidade do cérebro, o que aconteceria se usássemos a totalidade? Claro que a teoria do caos sobrepõe-se a essa nem que seja pelo facto de, pelo menos, ser real. O problema é que, normalmente, Hollywood faz uma interpretação muito livre da teoria e, sobretudo, assente na ideia desenvolvida por Ray Bradbury no seu O Som do Trovão.

Efeito Borboleta, que abre precisamente com um cartão explicando essa teoria do caos, até tem uma cena em que Ashton Kutcher lê esse mesmo livro. É um filme extremamente espertalhão, que procura passar sempre uma ideia de erudição que, por o passo ser muitas vezes maior do que a perna, soa quase sempre a sobranceria. Mas o pior é que toda a premissa do filme assenta sobre a mais fácil explicação de todas: o porque sim.

Efeito Borboleta começa com a adolescência de quatro amigos, nos Estados Unidos dos anos 90, que poderia muito bem ter sido escrita por Stephen King. E, em cerca de 20 minutos, acontece tanta coisa que até ficamos cansados. O pai de um mete-os a fazer filmes caseiros pedófilos, outro pega fogo ao cão de um deles e, com recurso a um mini-explosivo, rebentam com a casa duma vizinha. Parece tudo um pouco extremo para acontecer num tão curto espaço de tempo às mesmas pessoas, mas o mais importante a reter aqui é que Evan (John Patrick Amedori) tem blackouts recorrentes, que o levam a esquecer-se das coisas. E, para ajudar a estimular a sua memória, o médico aconselha-o a manter um diário.

Salta-se tão para actualidade e Evan é agora Ashton Kutcher, um brilhante aluno universitário, a pesquisar sobre o funcionamento da memória a partir de minhocas (lol) e vestido como se estivesse saído das filmagens do Que Loucura de Família. E, de repente, descobre que, se ler os seus diários, consegue regressar no tempo até esses momento e revive-los. Kutcher começa então a tentar reescrever alguns aspectos so seu passado para melhorar o presente. Mas como todos já vimos Regresso ao Futuro sabemos o que acontece quando se alterar a linha temporal. Assim, sempre que regressa à actualidade, as coisas não estão necessariamente melhores, levando-o de novo atrás no tempo, num ciclo vicioso interminável.

Não é uma ideia má, mas Efeito Borboleta é um filme para se ver com o cérebro desligado. É que, se começarmos a pensar muito nele, os buracos do argumento começam a ficar cada vez maiores até não conseguirmos prestar atenção a mais nada. O pior é mesmo o facto de Kutcher alterar toda a sua vida, mas tudo o resto ao seu redor parece manter-se igual. E como é que ele consegue lembrar-se de coisas que evitou virem a acontecer? É mesmo melhor parar e não pensar mais nisso…

Efeito Borboleta é assim uma espécie de filme sobre viagens no tempo para totós. Uma espécie de Primer versão teen movie. Mas isso não é o Regresso ao Futuro?, perguntam vocês. Bem… é. Efeito Borboleta tem graça relativa e acredito que é bem intencionado, por isso em dias bons até aceito o McChicken. Mas atenção, é espertalhão.

Título: The Butterfly Effect
Realizador: Eric Bress & J. Mackye Gruber
Ano: 2004

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