| CRÍTICAS | Cobweb – Segredo Maldito

É difícil dizer o que é pior na vida do jovem Peter (Woody Norman): se o bullying constante de que é alvo na escola por parte das outras crianças ou a forma paternalista e duvidosa com que é tratado pelos pais (Lizzy Caplan e Anthony Starr). Claro que há várias bandeiras vermelhas que vão sendo mostradas que nos dizem logo desde muito cedo que pode haver mais qualquer coisa por trás daquele comportamento meio ingénuo, meio pateta da mãe e do pai. Aliás, nem são bandeiras, são mesmo lençóis enormes que o realizador Samuel Bodin agita incessantemente, com medo que nós não o percebamos, já que subtileza não é coisa que existe em Cobweb – Segredo Maldito.

Peter é então um miúdo solitário. Na escola, os colegas metem-se com ele por ser diferente; e, em casa (uma mansão tão enorme e exageradamente distendida, que se torna ridiculamente falsa), os pais são terrivelmente condescendentes por ele ser “mais sensível”, se bem que depois o castigam severamente para que “cresça” e se “torne num homem”. Não é de admirar que, muito rapidamente, Peter vá fazer amizade com a voz que ouve do outro lado da parede do quarto, com Cobweb – Segredo Maldito a ser o enésimo filme de terror com jovens (e só estamos a pensar nos que estrearam no mês passado), que canaliza os seus traumas, medos e frustrações numa qualquer presença ou criatura sobrenatural.

Primeiro, a voz vai convencer Peter a vingar-se do bully da escola, o que ele faz partindo-lhe as duas pernas. Logo a seguir, esta questão desvanece-se como por magia do filme, porque ei, quem é que nunca partiu as pernas a uma colega de escola? Há de regressar lá perto do final de Cobweb – Segredo Maldito para desatar um nó no argumento e para que Bodin não seja acusado de recorrer a deus ex machinas. Depois, a voz vai revelar a Peter que é a sua irmã presa noutra divisão (o que não ajuda a explicar porque é que só comunica à noite…), que os pais são assassinos e que ele precisa de salvar o dia.

A meio de Cobweb – Segredo Maldito há uma espécie de twist, que gira tudo a 180 graus. Bem feito é um daqueles gimmicks que ganha um filme. Mas aqui, em que tudo é colado com cuspo, rapidamente se desvanece. Logo a seguir surgem novamente os tais bullies do início do filme, numa conveniente home invasion, há uma criatura (e mau CGI) que nunca percebemos muito bem o que é e quais as suas reais motivações e, por fim, como se não fosse já tudo mau demais, termina com um final em aberto, tão frustrante quanto desonesto.

Cobweb – Segredo Maldito tem uma série de ideias, que Samuel Bodin coloca na mesma panela, mas depois esquece-se de mexer ou de sequer ligar o fogão. E fica ali tudo a arder em lume muito baixinho, enquanto os actores andam perdidos sem saber o que fazer e alguém tenta salvar a situação, criando um ambiente de sombras, muito Expressionismo alemão, mas que acaba por ser apenas uma cópia barata de um filme do Tim Burton. Cobweb – Segredo Maldito é um desperdício de quase tudo e a Hamburga de Choco vai quase toda inteirinha para uma boa cena de susto que há lá pelo meio. É tudo muito poucochinho.

Título: Cobweb
Realizador: Daniel Bodin
Ano: 2023

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