| CRÍTICAS | Beau Tem Medo

Se a A24 é hoje uma das mais respeitadas casas de produção cinematográfica no mundo, muito o deve a Ari Aster e ao sucesso dos seus incríveis Hereditário e Midsommar – O Ritual. Se fizermos uma equivalência com o futebol e se dissermos que a A24 é o Manchester City de hoje, então Aster é o demolidor Erling Braut Haaland. Se a A24 fosse o Benfica dominante dos anos 60, então Aster seria o Eusébio. Ou se a A24 fosse a Laranja Mecânica de Rinus Michels, então Ari Aster seria Marco Van Basten. Acho que já perceberam o meu ponto, não já?

Beau Tem Medo foi assim o filme mais aguardado de Aster e o realizador parece não ter aguentado a pressão e a expectativa. Mas ambição não lhe faltou. O filme, que estende a ideia de uma das suas curtas iniciais – o homónimo Beau – é um épico de 3 horas, sobre um homem (Joaquin Phoenix) cheio de ansiedade, fobias sociais e traumas reprimidos. Ao aproximar-se o aniversário da morte do pai, Phoenix vai apanhar o avião para ir visitar a mãe (Patti LuPone). No entanto, tudo lhe começa a suceder, transformando aquela simples viagem numa epopeia digna dos trabalhos de Hércules, tão metafórica quanto o Mãe! de Aronofsky e tão surrealista quanto um David Lynch em ácidos (pleonasmo, eu sei).

Há alturas em que Beau Tem Medo parece aqueles sonhos que temos e que não fazem sentido nenhum. Como aquela vez em que sonhei que ia com uns amigos num sapato voador buscar uma cana de pesca a uma casa qualquer. Isso não é necessariamente mau, porque, tal como nos melhores filmes de Lynch, Aster consegue fazer de Beau Tem Medo um filme extremamente belo, em que podemos não perceber nada do que estamos a ver, mas há sempre um feeling de que não podemos desviar a atenção porque aquilo parece ser importante. O problema é que isto, estendido por três horas, o vai esvaziando aos poucos, deixando o balão a arrastar-se.

Beau Tem Medo é uma sucessão de medos, fobias e traumas, em que no final tudo parece andar à volta de mummy issues. Não teria sido mais fácil Aster ter ido fazer terapia do que nos obrigar a três horas disto? Não é que seja um mau estranho filme, mas o problema principal de Beau Tem Medo é ter de lidar com as expectativas. E, perante um Midsommar – O Ritual ou um Hereditário, sai claramente por baixo. Este é um Happy Meal para ver uma vez e depois arrumar bem arrumadinho, algures na secção dos filmes esquisitos pra comentar quando alguém puxar o assunto.

Título: Beau is Afraid
Realizador: Ari Aster
Ano: 2023

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