| CRÍTICAS | Dashcam

Durante os primeiros tempos da pandemia, a maioria de nós teve muitas ideias, algumas parvas e outras tantas ainda mais parvas. Felizmente, nem todos as pusemos em prática, mas houve pessoal mais pró-activo que não teve vergonha de as levar avante. Foi o caso do realizador Rob Savage, que agarrou em Annie Hardy – cantora indie e youtuber – e lançou-se para fazer um pequeno filme independente, com apenas 1 hora de duração, de found footage.

Annie Hardy faz então uma coisa chamada band car: um vlog em que, enquanto conduz, vai improvisando rimas sobre uma batida simples, a partir de palavras avulso de que se vai lembrando ou que os internautas vão deixando nos comentários. Dashcam é assim um filme feito inteirinho a partir desse vlog de Annie Hardy e isso é a sua principal conquista. É certo que, por vezes, é só a câmara a ser abanada e atirada de um lado para o outro, com muitos gritos sobrepostos, mas a verdade é que Rob Savage consegue montar um filme inteiro a partir de um livestream. Tudo isto ao mesmo tempo que vão surgindo, em tempo real, comentários de outros internautas no canto inferior esquerdo e muitos likes e coraçõezinhos no canto oposto do ecrã.

Faltou apenas dizer que Annie Hardy é super-irritante. Além de praguejar como um pirata (e de dizer recorrentemente impropérios como shit on my dick ou dicks in my ass), ser uma chalupa negacionista da covid e trumpette com chapéu MAGA e tudo, Annie Hardy é inconveniente, parva e, o pior de tudo… nunca se cala. Por isso, a experiência fílmica de Dashcam é exponencialmente equivalente à tolerância do espectador a Annie Hardy.

Annie vai então apanhar um avião de Los Angeles para Londres, por estar farta das restrições da América por causa da covid, e vai crashar na casa do antigo colega de banda, Stretch (Amar Chadha-Patel). Depois rouba-lhe o carro e acabará a transportar uma velhinha no banco de trás, que se vai revelar algo mais. A velhinha pode não ser sequer uma velhinha, tem problemas em aguentar os intestinos e… tem poderes telecinéticos. A partir daí é o caos, com acidentes de viação, fracturas expostas, jactos de sangue, muitas quedas e cocó. Sim, Dashcam tem um estranho fascínio por escatologia e até tem um grande plano de fezes humanas(!).

Não há propriamente uma história em Dashcam e quem espera respostas no final sairá provavelmente frustrado. No entanto, não deixa de ser uma viagem intensa. Depois de [Rec], o found footage ganhou um novo impulso, se bem que a maioria deles repete a fórmula desse filme espanhol. Ao menos, Dashcam dá-nos algo novo, não tendo medo de arriscar e de provocar. Mesmo que falhe, é um passo em frente no género. Um passo pequenino, é certo, mas Dashcam é um sólido Double Cheeseburger.

Título: Dashcam
Realizador: Rob Savage
Ano: 2021

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