| CRÍTICAS | Fala Comigo

Para todos aqueles que não entendem como é que os jovens entram em desafios estúpidos da internet, como comer detergente para a máquina, Fala Comigo está aí para nos lembrar como é fácil sucumbir à pressão dos pares. E como os fenómenos virais criam uma espécie de onda à qual é difícil de resistir – não é por acaso que isto acontece naquela que é a estreia cinematográfica dos irmãos Phillippou, que criaram nome como youtubers. Em Fala Comigo existe uma mão de cerâmica que, quem a agarrar durante 90 segundos, é possuído por um espírito à toa e tem a melhor trip da sua vida. Ao mesmo tempo, os amigos registam tudo com os telemóveis, em sessões de pândega, e partilham nas redes sociais, criando uma cena.

A mão de cerâmica é um gimmick que nunca é explicado (como funciona? donde vem? como é que a primeira pessoa descobriu o seu funcionamento, incluindo a exactidão dos 90 segundos e o pormenor de se ter de acender e apagaram vela?), mas nada disso importa. Afinal de contas, isso é sempre secundário, num filme que é o quinquagésimo sexto filme de terror sobre o trauma e a perda de 2023 e que os mecanismos do terror e do fantástico são apenas uma metáfora para as relações humanas e familiares.

Por tudo isso – e pelo seu ar de aventura de liceu, em que os jovens são os heróis e os adultos são praticamente ausentes -, Fala Comigo lembra o Vai Seguir-te. É certo que esse redefinia o filme de criatura, mas havia um gimmick que também era mal explicado, em detrimento da sua metáfora sobre as doenças sexualmente transmissíveis e a sexualidade na adolescência.

Mia (Sophie Wilde) é então uma jovem ainda a lidar com a perda da mãe, que se suicidou há dois anos atrás, e do namorado para a melhor amiga. Por isso, quando fica agarrada à mão de cerâmica por mais de 90 segundos, Mia mantém uma porta aberta para o outro mundo que leva a possessões e a acontecimentos sobrenaturais destrutivos e violentos. Especialmente para Riley (Joe Bird), o irmão da melhor amiga, que fica aprisionado para sempre num limbo qualquer.

É na segunda metade que Fala Comigo se transforma num filme de possessão e, apesar de dar quinze a zero a O Exorcista: Crente (o reboot do clássico de 1973 que chega ao cinema mais ou menos na mesma altura), nunca tem o mesmo interesse da primeira parte. É que aqui parece que os irmãos Phillippou sucumbem a vários truques fáceis de outros filmes de terror, com sustos fáceis e um par de lugares-comuns. Contudo, nada disso belisca Fala Comigo como um óptimo filme de terror, que nos chega com a assinatura sempre impoluta da A24. Já vimos melhores McBacons, mas a verdade é que são muito mais habituais os filmes de terror piores que este. E a pagar. O pior é que agora certamente que temos que nos preparar para as sequelas, onde o bodycount vai ser sempre a subir.

Título: Talk To Me
Realizador: Danny Phillippou & Michael Phillippou
Ano: 2023

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