| CRÍTICAS | O Sexto Sentido

Não foi o seu primeiro filme, mas foi com O Sexto Sentido que M. Night Shyamalan se tornou M. Night Shyamalan. E, com ele, veio uma espécie de maldição. A partir daqui, o realizador passou a sentir a obrigação de colocar em todos os seus filmes um twist final, uma marca pessoal tão impregnada como se tivesse sido colocada em brasa.

Por causa desse twist, O Sexto Sentido é um daqueles filmes que a primeira vez que se vê é única e irredutível. Mas, como nos melhores filmes com um twist final, O Sexto Sentido não se esgota apenas numa visualização. É que o twist é esse pau de dois bicos: por um lado é um gimmick com um factor uau capaz de deixar qualquer um com a cabeça à toa; mas por outro lado pode esvaziar o filme por completo, deixando-o refém desse mesmo twist enquanto filmes para se ver apenas uma vez na vida.

O Sexto Sentido é um film noir de fantasmas, o que trouxe logo a Shyamalan as comparações com Alfred Hitchcock. O tempo veio a provar que eram manifestamente exageradas, mas na altura fazia sentido. O filme começa com Bruce Willis e a esposa, Olivia Williams, a verem a sua casa ser invadida por um tipo claramente desequilibrado. Willis é um conceituado psicólogo infantil e Donnie Wahlberg é um ex-paciente, que parece ter piorado. Mas antes que O Sexto Sentido se possa transformar num home invasion movie, Wahlberg dispara sobre Willis e sobre si próprio.

Fade to black e um cartão anuncia “no Outono seguinte”. Willis ai ao encontro de um jovem Haley Joel Osment, que parece ter sintomas semelhantes. “Se o tratar talvez consiga compensar o outro que se matou”, parece ser o raciocínio de Willis. Por isso, vai dedicar-se de corpo e alma ao caso, criando uma relação de proximidade com Osment. Ao mesmo tempo, a relação em tempos impecável com a esposa parece estar a queimar os últimos cartuchos, já que o afastamento entre ambos é cada vez maior e o silêncio impera quando estão juntos.

A partir do film noir, M. Night Shyamalan vai jogando com os códigos do filme de fantasmas, já que às tantas – naquela que é a cena mais irónica de O Sexto Sentido -, Haley Joel Osment confessa “ver pessoas mortas”. E Bruce Willis acaba por acreditar no miúdo, já que um par de situações parecem corroborar a sua história. Por isso, o thriller vai-se tornando cada vez mais sobrenatural, com música em crescendo, jogos de sombras (que bem combinam com o noir) e manifestações de almas penadas.

Um dos achados de O Sexto Sentido é mesmo Haley Joel Osment, a enésima teen star que, depois de crescer, desapareceu por completo. No entanto, em O Sexto Sentido parecia que iria conquista o cinema, com os seus olhos pequeninos e um underacting que fazia o contraponto perfeito com a mãe, Toni Collette. Aliás, já perto do fim, há uma cena perfeita com os dois, no carro, em que o primeiro faz as revelações finais à segundo, que é o momento em que o filme atinge o ponto caramelo.

A seguir ainda há de vir o tal twist final, que vai encaixar as várias peças do puzzle, que estavam bem debaixo do nosso nariz (as soluções mais simples são muitas vezes as melhores) e que serve apenas para confirmar que M. Night Shyamalan era o the next big thing. Hoje, o filme mantém o seu Royale With Cheese, mas Shyamalan já só é mais um tipo que às vezes faz uns filmes giros, enquanto continua a ser conhecido como o realizador de O Sexto Sentido.

Título: The Sixth Sense
Realizador: M. Night Shyamalan
Ano: 1999

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