| CRÍTICAS | Jeanne Du Barry – A Favorita do Rei

A novela interminável que foi o julgamento de Johnny Depp e Amber Heard foi um espectáculo degradante, que fez as delícias dos incels desta vida e dos tipos que bradam cancel culture por tudo e por nada. Três anos após o seu último filme, eis o regresso de Depp enquanto Luís XV, em Jeanne Du Barry, e o filme de Maïwenn sacou de uma ovação de 7 minutos na abertura de Cannes. Afinal, a carreira de Depp não tinha sido cancelada coisa nenhuma por causa das acusações de Heard. Estava era a sofrer por só fazer filmes de merda.

Jeanne Du Barry – A Favorita do Rei é o biopic da mais famosa cortesã da corte de Luís VX (aqui interpretada pela própria Maïwenn, que faz do filme o seu espectáculo a solo), que subiu na hierarquia social de Versalhes contra todas as previsões. E Du Barry tornou-se mesmo numa das mulheres mais importantes do seu tempo, rompendo com o espartilho das convenções da época, revolucionando o guarda-roupa (foi a primeira a usar calças ou o cabelo solto) e tornando um pequeno africano que recebeu de presente em pajem. Joanne Du Barry, ícone e figura proto-feminista, acabaria por se tornar odiada pela corte e, depois, pelos republicanos, tendo o mesmo fim de Luís XVI ou Maria Antonieta: a guilhotina.

Maïwenn procura resgatar (e reabilitar) a memória desta mulher, nem que seja para a retirar da sombra da própria Maria Antonieta. No entanto, fa-lo num filme de época demasiado respeitoso do protocolo e das convenções do género, muito mais próximo de um Barry Lyndon (em que o jogo social é quase uma liturgia) do que o transgressor Marie Antoinette, de Sofia Coppola.

Tal como A Favorita (não é por acaso que, em português. o filme recebe o subtítulo de A Favorita do Rei), Jeanne Du Barry é um filme que se constrói a partir da intriga que se joga nos bastidores da corte, alicerçado na saga de uma mulher só. Por tudo isto, este é o filme de Maïwenn, mas a verdade é que esta não se destaca particularmente no papel da protagonista, a qual lhe falta ligeiramente essa verve que o filme procura captar. Por sua vez, Johnny Depp é um secundário de luxo, mas que se limita a parecer sempre enfadado, falando francês e a olhar para o infinito. E, no final, lá apanha varíola e enchem-lhe a cara de pústulas, tornando-se em mais um dos seus bonecos, porque agora já não consegue fazer filmes em que não seja um boneco. Joanne Du Barry – A Favorita do Rei é uma boa história, num filme competente, para ver a seguir de A Morte de Luís XIV, de Albert Serra, e antes do Marie Antoinette. A trilogia fica completa com este McBacon.

Título: Jeanne Du Barry
Realizador: Maïwenn
Ano: 2023

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