| CRÍTICAS | A Casa de Campo

Anos antes de ser cool, os Tilson (Dennis Quaid e Sharon Stone) venderam o apartamento que tinham em Nova Iorque e compraram um solar no campo para renovar, trocando a cidade pelo campo, naquele gesto tão romântico quanto idealizado. Os dois estavam casados do estresse citadino e dos quase-atropelamentos diários e tomaram uma daquelas decisões que mudam uma vida. Para o bem e para o mal.

A mansão que adquiriram por uma ninharia – com todo o recheio, incluindo home videos e nudes dos antigos donos – chama-se Cold Creek Manor, que parece conter um segredo terrível, mas nós nunca vamos sabe-lo na totalidade. Em contrapartida, no diner local lá do vilarejo todos parecem cabelo, se bem que ninguém o comenta em vez alta. Mas estão sempre todos reunidos no café para convenientemente poderem julgar todos os passos dos novos residentes. Roger Ebert dizia que, nestes filmes, o pessoal dos diners funcionavam como o coro no teatro grego.

Rapidamente acreditamos que Cold Creek está assombrada. Afinal de contas, o realizador Mike Figgis não perde uma oportunidade para utilizar todos os lugares-comuns do género: a música sinistra, os barulhos no sótão, as nuvens sombrias no horizonte sempre a criar ambiente quando algo suspeito acontece… Além disso, o filho do casal (Ryan Wilson) fica rapidamente obcecado com as coisas do miúdo que lá vivia antes e começamos a contar os minutos para haver uma qualquer aparição do além. Só que não. A Casa de Campo não é um thriller desses, nem tão pouco um filme de possessão. E quem aparece é alguém bem real.

Stephen Dorff é o ex-dono da casa, que acaba de sair da prisão, onde cumpriu pena or atropelar involuntariamente um homem e aparece para pedir trabalho. Toda a gente vê a milhas que aquilo não é uma boa ideia, excepto Dennis Quaid e Sharon Stone. E não é por falta de aviso, há que o coro – leia-se os clientes locais do diner – fartam-se de enviar sinais, Juliette Lewis à cabeça.

Dorff vai então imiscuir-se naquela família, sempre em tronco nu e com os abdominais bem definidos à mostra, e os incidentes começam a suceder-se. Sugestões de envolvimento sexual com Sharon Stone e com a filha menor (uma muito jovem Kristen Stewart), cobras que aparecem no interior da casa ou… um cavalo morto na piscina(!). É. primeira de várias cenas em que o senso comum não impera e temos de desligar o cérebro. Como é que m homem sozinho mata um cavalo e o atira para a piscina?

Quaid vai-se incompatibilizar com Stephen Dorff, chegam a vias de facto e as coisas tornam-se perigosas. Até que o primeiro encontra um aparelho dos dentes semi-enterrado no alpendre de casa e, voilá!, tudo faz sentido: Dorff matou os filhos e a esposa. Mas esperem lá, isso era uma hipótese? Desde quando? Porque é que nunca foi referido até ao último acto do filme?

A Casa de Campo termina então como um banal thriller de acção, onde Christopher Plummer tem a sua segunda breve cena a comer bombons e Dorff, que sofre do síndrome do vilão falador, volta a sofrer também de um grave caso de falta de senso comum. A prova cabal? Depois de empurrar Sharon Stone para dentro de um poço, seria de esperar que fizesse o mesmo a Dennis Quaid, enquanto este a puxa lá de dentro. Mas não, fica convenientemente à espera para depois os perseguir até ao tipo do telhado da casa, para que um deles possa cair lá de cima. Adivinhem quem vai ser… A Casa De Campo é um Happy Meal para comer com o cérebro desligado e arrumado no fundo de uma gaveta.

Título: Cold Creek Manor
Realizador: Mike Figgis
Ano: 2003

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *