| CRÍTICAS | Viriato

Estamos no ano 50 a.C..Toda a Gália está ocupada pelos romanos… Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses resiste agora e sempre ao invasor.

Toda a gente sabe a história da brava aldeia do Astérix, mas poucos são os que conhecem a história de Viriato, o pastor que liderou os Lusitanos na guerra contra os romanos pelo território que hoje corresponde a parte de Portugal e de Espanha. É certo que o que existe hoje em dia são mais dúvidas do que certezas em relação à sua vida, mas desde quando é que isso impediu o cinema de contar uma história?

Viriato tenta compensar essa lacuna do cinema portugês com um filme meio livre sobre a resistência de Viriato, ao unir as tribos da Lusitânia contra a toda-poderosa máquina de guerra romana. E Luís Albuquerque fa-lo depois de uma dieta exaustiva de Braveheart – O Desafio do Guerreiro, de Gladiador e de todas as temporadas integrais dos Vikings. O problema é que, disso tudo, o realizador apenas digeriu o épico das histórias. E, sejamos honestos, fazer um épico sem dinheiro é como fazer omeletes sem ovos.

Por isso, o que sobra de Viriato é apenas uma colagem de cenas que procuram mimetizar tantas outras que Luís Albuquerque viu nesses filmes, muitas delas sem razão sequer aparente, como determinadas cenas introspectivas no topo de uma montanha ou no meio dum lago só porque têm boa pinta. Há assim muitas sequências de batalhas (demasiadas) com os graves saturados na banda-sonora como agora se usa, muita slo-mo gratuita e muita gente a gritar, para adicionar intensidade.

Tudo isto é derivativo e serve apenas para ilustrar um argumento minimalista e colado com cuspo, onde existem demasiados discurso motivadores e os restantes são super-explicativos, debitados pelos actores como num teatrinho de escola. A edição e desastrosa e tudo tem uma escala televisiva, até porque há sempre a preocupação de tentar compensar o baixo orçamento. No entanto, quando Viriato se leva tanto a sério, sem noção das suas limitações, começamos a não conseguir evitar prestar atenção ao guarda-roupa fajuto, aos cenários improvisados e à falta de mais actores além da meia-dúzia de secundários. Na maior parte das vezes, Luís Albuquerque pura e simplesmente ignora tudo isso e avança, estando a cagar-se. São curiosamente os melhores momentos do filme. Noutras, é tudo tão evidente que tem mesmo de o incorporar no filme.

Viriato parece uma daquelas feiras medievais que agora existem como cogumelos em todas a cidades e vilas de Portugal (existem mais feiras medievais agora do que na Idade Média): ao longe até parecem legítimas, mas assim que nos aproximamos vemos que tudo é de plástico e de baixa qualidade, num kitsch da loja do chinês. Há pouca coisa a recomendar nesta Hamburga de Choco. E a sério que era mesmo necessário aquele plano final da estátua de Viriato em Viseu, com as decorações natalícias à volta?

Título: Viriato
Realizador: Luís Albuquerque
Ano: 2019

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