| CRÍTICAS | Bottoms

Os filmes de liceu começaram finalmente a entrar na geração Z – vide Booksmart – Inteligentes e Rebeldes ou Do Revenge -, com a consciencialização das suas causas, uma preocupação expressa pela representatividade e uma sensibilidade estética que se reflecte nas referências pop que faz, no guarda-roupa e na banda-sonora cheia de hits do TikTok. E agora tem também auto-consciência disso tudo. Bottoms é o novo high school movie feito por e para a geração millenial, em que as protagonistas (Rachel Sennott e Ayo Edebiri), duas loosers do liceu onde andam, não o são apenas por serem simplesmente homossexuais; são-no por serem lésbicas, feias e sem talento.

Como qualquer filme de liceu, Bottoms é um coming of age, mas fa-lo parodiando e até dinamitando os próprios códigos do género. Para isso, exagera símbolos e ideias, num crescendo hiperbólico, que o tornam mesmo pateta. No final, teria tudo numa matança do porco inesperada, especialmente por ser tão exagerada, o que faz de Bottoms o Heathers do século XXI.

A história é simples: Rachel Sennott e Ayo Edebiri estão determinadas em fazer do novo ano lectivo o ano em que vão deixar a posição mais baixa da pirâmide social da escola e conseguir “sacar” as miúdas que cobiçam. Para isso, acabam por criar um clube de combate à semelhança do de David Fincher para se empoderarem. Ou será que é um clube de auto-defesa? A linha entre ambos é ténue e vai ser ultrapassada vezes em conta, até porque tudo há de escalar bem rapidamente.

Bottoms entra amiúde no cartunesco e fa-lo a pés juntos, sem pedir licença, o que ajuda a espumar porque é que os jogadores da equipa de futebol americano do liceu andam sempre fardados. Mais do que personagens, eles são arquétipos. E, sendo um filme de jovens, os autuados estão também praticamente ausentes do filme. A excepção é o professor Mr. G (Marshawn Lynch), tão ausente quant inconveniente, que é possivelmente o melhor do filme.

Mas nem tudo são rosas em Bottoms. Em contrapartida, é difícil engolir a linguagem carregada de conotações sexuais, não porque as meninas não podem praguejar, mas porque soa claramente a falso, como aqueles tipos de meia-idade que escrevem diálogos para adolescentes que querem soar a cool e, por isso, enchem-nos de asneiras e sexo. Há mais momentos em que o filme ultrapassa o niilismo da caricatura e torna-se apenas ridículo, redundante ou… cringe, já que estamos a falar de millenials. Ou então é só a generation gap, até porque, enquanto estou a escrever este texto, já tive que fazer duas pausas para ir à janela gritar com os miúdos que estão ali fora a jogar à bola e a fazer demasiado barulho. Seja como for, o filme de liceu entrou finalmente no novo século e é agora um género de pleno direito. Fica a faltar aparecer o John Hughes desta geração, se bem que A Revolta dos Marados e O Clube são aqui óbvias referências. Basta ser o cartaz oficial do filme. Só por isso, Bottoms já valia o Cheeseburger, fácil.

Título: Bottoms
Realizador: Emma Seligman
Ano: 2023

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