| CRÍTICAS | V/H/S/85

A série V/H/S é o franchise do cinema mais duradouro que ninguém quer saber. A sério, quem é que anda a seguir esses filmes? Só mesmo os maluquinhos mais acérrimos do cinema de terror. Existem já umas vinte e sete sequelas, são todas antologias e têm como base o found footage, servindo essencialmente para revelar novos nomes do género, consolidar outros e permitir experimentar umas coisas.

V/H/S/85 é o mais recente volume da série, produzido pela Shudder directamente para o streaming (aliás, foi precisamente quando chegou ao streaming que o filme original ganhou novo fôlego e permitiu partir para as sequelas e spin-offs) e que, como o próprio nome indica, é dedicado aos anos 80. Só surpreende por não ter acontecido mais cedo. Afinal de contas, os eighties foram a década por excelência do vhs, em que o novo formato portátil veio revolucionar o cinema e a forma como consumíamos filmes, ao mesmo tempo que as camcorders e o home vídeo começavam a democratizar o acesso à sétima arte. Quem não se lembra do Isto Só Vídeo, com o Virgílio Castelo, que compilava vídeo-amadores humorísticos, oferecendo finalmente os 15 segundos de fama a toda a gente? Depois vieram as duzentas e trinta e duas temporadas do Ridiculousness banalizar tudo isso.

V/H/S/87 é assim uma compilação de cinco curtas ideias, assinadas por nomes mais conhecidos (olá Scott Derrickson, como estás?) e outros menos (todos os outros?), misturados numa extravaganza de imagens aleatórias, efeitos de fita gasta ou imagens fantasma sobrepostas. Chega a ser altamente psicandélico e há momentos que nem sabemos muito bem o que estamos a ver. Conhecem a EXP TV?, o canal de streaming online que transmite non-stop uma colecção de imagens aleatórias de audiovisual obscuro? Por vezes, ver o V/H/S/85 é como ver o EXP TV.

O problema dos filmes-antologia é que são quase sempre desequilibrados, já que há sempre trechos melhores que outros e muita diversidade temática ou formal. Aqui tudo é harmonizado pela temática dos anos 80, certo? Nem por isso. Tirando o aspecto home-video (e o found footage, claro), as histórias podiam passar-se em qualquer década. Há umas roupas coloridas e datadas aqui e acolá, há um diálogo sobre o beta ser melhor que o vhs e há a referência ao Samitério de Animais (o que é isso? É o novo livro do Stephen King, idiota!), mas tudo isso são apenas pormenores sem importância.

Mas é também na diversidade formal que encontramos o melhor que V/H/S/85 tem para oferecer. É que o filme é uma viagem por vários géneros, uma espécie de comboio-fantasma que passa pelo mockumentário, pelo slasher de adolescentes com as hormonas aos saltos (num segmento que depois tem um óptimo twist que o atira para o filme de zumbis, mas que termina quando começa a ficar interessante), pelo survivor movie, pelo gore porn ou pelo cyberpunk (Richard Stanley ficou orgulhoso), tudo remisturado de forma psicadélica. A melhor história é a de Gigi Saul Guerrero, em que uma transmissão televisiva no México é interrompida por um tremor de terra, que liberta uns deuses pan-americanos do interior da terra, mas especialmente porque a luta pela sobrevivência ao escaparem do edifício que ameaça ruir a qualquer momento é particularmente claustrofóbica.

V/H/S/85 é um óptimo filme para ter a correr na televisão, enquanto esperamos que chega a pizza, colocamos a Coca-Cola no frigorífico e aguardarmos que um filme como deve de ser termine de ser descarregado de um site ilegal qualquer da internet para uma noite de sábado à noite de cinema com os amigos. O que, verdade seja dita, era precisamente isso que significa o vhs nos anos 80. Por isso, o Cheeseburger final é obviamente infeccionado pelo factor nostalgia.

Título: V/H/S/85
Realizador: David Bruckner, Scott Derrickson, Natasha Kermani, Mike P. Nelson & Gigi Saul Guerrero
Ano: 2023

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