| CRÍTICAS | Road House

O mais infame de todos os episódios da história do cinema continua a ser o remake de Ruptura Explosiva, em 2015. Não há nenhum cinéfilo que não continue traumatizado com esse acontecimento. É como se alguém entrasse na nossa casa e, obrigando-nos a ficar impávidos e serenos a observar, destruísse devagarinho e com requintes de malvadez tudo aquilo que mais amassemos. E, no final, ainda mijasse em cima. Por isso, a chegada de um remake de Profissão: Duro deu calafrios a todos. Afinal de contas, tal como Ruptura Explosiva, esse é um dos melhores maus filmes de sempre. Por isso, arriscar ver Road House não é para todos, mas antes para os bravos e corajosos.

Tal como o Point Break – Caçadores de Emoções, também Road House procurou refazer Profissão: Duro com liberdade narrativa. Começando logo por alterar a premissa do original, que era uma das mais xungas ideias da história do cinema xunga. Tal como em Profissão: Duro, aqui também existe uma road house mal frequentada que precisa de ser limpa, mas a dona (Jessica Williams), em vez de ir contratar o melhor segurança de discotecas do mundo(!), opta antes por um lutador retirado de UFC (Jake Gyllenhaal). O realizador Doug Liman sabe bem que material tem nas mãos e até brinca com ele (há piadas com o nome do bar, que aqui passou de Double Douce para… Road House, apesar de não ser propriamente uma road house… e há uma espécie de referências meio-meta com o facto da história ser a de um neo-western), mas opta por alterar o mais importante. Só falta saber se o fez por respeito ou por receio de atraiçoar o conteúdo original.

Jake Gyllenhaal é então um lutador quase imbatível, com uma vida espartana, muita pinta e um gosto duvidoso por camisas estampadas, que tem também um esqueleto no armário. É que, quando se passa nos carretos, tem tendência a perder o controlo, o que custa a acreditar tendo em conta o quão zen ele é. Por isso é que acabou expulso da UFC, depois dum combate onde espancou o adversário já depois de caído e que continua a voltar de quando em vez durante o filme, sob a forma de flashback, para o atormentar no sono. No filme original, Patrick Swayze tinha morto um tipo depois de lhe arrancar as goelas com as mãos e isso atormentava-o. Doug Liman também alterou isso…

Tudo o resto é o habitual. Gyllenhaal chega então para arrumar esse bar de praia numa cidadezinha da Flórida em que um mafioso cheio de dívidas (Billy Magnussen) quer gentrificar à força o território (sempre os especuladores imobiliários a serem os vilões de todas as grandes histórias – e nós aqui continuamos a ignorar isso, dando benefícios fiscais a todos os fundos imobiliários e ajudando todos aqueles que querem comprar e transformar os seus apartamentos minúsculos em alojamento local). O bar não é mais do que uma versão micro dessa imagem maior que é a cidade e, ao resolver o problema do bar, o forasteiro vai resolver também o problema do resto dos locais. No fundo, é um dos modelos clássicos do western, em que o herói vem de fora para impor a lei e a ordem no caos.

A grande diferença de Road House para Profissão: Duro é que, aqui, o argumento é colado com cuspo, como se Doug Liman nunca acreditasse realmente na história que tem em mãos e, por isso, não se preocupasse muito em torna-la credível. Abusa dos clichés – incluindo Joaquim de Almeida a fazer de Joaquim de Almeida -, vai buscar Conor McGregor para vilão mas nunca o deixa realmente ser o sociopata cruel que promete ser e acredita que meia-dúzia de cenas de pancadaria são suficientes para nos entreter. Não chega, porque Road House nunca é pateta o suficiente para nos levar a desligar o cérebro e deixar, pura e simplesmente, apreciar o action movie, como acontece com o bom cinema xunga.

Por isso, a grande conquista de Road House será mostrar como Portugal está a infiltrar-se finalmente em Hollywood. Com Daniela Melchior a ocupar o papel de interesse romântico de Jake Gyllenhaal, Road House torna-se no primeiro blockbuster de Hollywood com 2(!) actores portugueses. Bem, nem tudo é mau. Pelo menos, ao contrário de Point Break – Caçadores de Emoções, este é um remake que não nos vai deixar cicatrizes psicológicas. É só um Cheeseburger sensaborão.

Título: Road House
Realizador: Doug Liman
Ano: 2023

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