| CRÍTICAS | Challengers

Depois de fazer Euphoria, Zendaya tornou-se num fenómeno global. O realizador italiano Luca Guadagnino, depois de ter andado enamorado com Timothée Chalamet, o outro ai-Jesus de Hollywood da actualidade (e que consta que também chegou a ser considerado para este filme), também não resistiu aos encantos da actriz. Challengers é o seu mais recente trabalho, o segundo nos Estados Unidos e, apesar de ser sobre um triângulo amoroso, acaba por ter em Zendaya (voluntária ou involuntariamente) o seu grande foco de atenção. Se tiverem dúvidas nisso basta olharem para o cartaz oficial do filme.

Challengers passa-se no mundo do ténis, modalidade que é utilizada como metáfora amoroso para o triângulo amoroso que se vai desenhar entre Zendaya, Mike Faist e Josh O’Connor, desde que eram jovens e promissores tenistas até ao auge das suas carreiras. Aliás, Guadagnino vai explorar essa metáfora até à exaustão, mas ei, se as coisas funcionam porque não as usar? Isso começa logo pelo título, suficientemente ambíguo para funcionar como uma metáfora de dois sentidos. Afinal de contas, os torneios challengers são uma espécie de segunda liga do ténis, onde os tenistas procuram amealhar pontos para se qualificarem para os grand slams. E é precisamente num destes torneios que Mike Faist e Josh O’Connor se vão encontrar.

É assim que abre Challengers. Depois de um curto prólogo, em que percebemos que Mike Faist é a grande estrela da actualidade do ténis, mas que atravessa uma crise de confiança depois de uma arreliadora lesão, e Josh O’Connor é um tipo que procura sobreviver com o ténis, sem dinheiro no bolso, ambos vão chegar à final. Essa partida vai prolongar-se por todo o filme até se resolver na cena final (será que se resolve), mas Challengers não tem nada a ver com um filme de desporto sobre underdogs. O que está aqui em causa é muito mais profundo que isso. E começa muito mais lá atrás. Aliás, uma das provas que isto não é um filme de desporto é que as partidas de ténis, que abusam do CGI, são sempre tão irrealistas como todos os filmes que procuram recriar partidas de futebol.

Por isso, o filme vai andar a saltar constantemente entre flashbacks e flashforwards, em que ficamos a conhecer como Mike Faist e Josh O’Connor eram os melhores amigos desde a infância e, quando a promissora e bela tenista Zendaya se intromete entre eles, as coisas vão descambar. Por isso, esta final do torneio de challengers vai ter várias camadas: ajuste de contas, redenção, vingança… O triângulo amoroso é uma instituição do cinema italiano (Bernardo Bertolucci teria gostado disto), mas nunca se tinha visto um assim, ancorado desta forma no desporto e no ténis em particular.

A grande cena de Challengers, pela qual será para sempre recordado, é o muito falado threesome entre Zendaya, Faist e O’Connor. Essa cena está para Challengers assim como a cena do pêssego está para Chama-me Pelo Teu Nome, utilizando para comparação outro filme de Guadagnino. É uma óptima cena, que faz lembrar E A Tua Mãe Também, como alguém me lembrou, e que dá o mote para o resto do filme. Uma cena sobre desejo, mas também manipulação, sem nunca descer propriamente à psique das personagens. Ou, pelo menos, à de Zendaya, que é sempre a personagem mais ambígua e imprescritível.

Challengers é realizado com a velocidade do cinema, em que a banda-sonora de Trent Reznor e Atticus Ross marca o ritmo, como um jogo de ténis: rápido, directo, de parada e reposta, sem grande tempo para pensar, apenas para reagir. Fica a impressão que, no último acto, Luca Guadagnino se descontrola um pouco e tem alguma dificuldade em perceber onde parar. Mas nada disso afecta em demasia o belo McRoyal Deluxe que é este Challengers.

Título: Challengers
Realizador: Luca Guadagnino
Ano: 2024

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