| CRÍTICAS | Ex Machina

Dez anos após a estreia, Ex Machina continua tão actual e pertinente como no primeiro dia. A inteligência artificial continua a evoluir e a desbravar novas conquistas a um ritmo quase diário, muito mais rápido do que a sociedade se consegue adaptar. Durante o filme há um diálogo em que a personagem de Oscar Isaac refere que o aparecimento da IA era apenas uma questão de tempo na evolução humana. Uma década depois dessa fala, era difícil adivinhar como isso iria ser tão verdadeiro.

Oscar Isaac é então um pequeno génio informático, que vive recluso numa bunker hi-tech no meio de nenhures, embebedando-se durante a noite e desenvolvendo a próxima grande conquista tecnológica. No fundo, Oscar Isaac é aquilo que o Elon Musk gosta de pensar que ele próprio é. Por sua vez, Domhnall Gleeson é um jovem promissor engenheiro informático que, de entre todos os trabalhadores da firma de Isaac, foi o escolhido para passar uma semana na casa do patrão, a conviver e a descobrir em primeira mão o que ele anda a magicar.

Obviamente que o prémio de Oscar Isaac é um gato com o rabo de fora. É que ele acabou de criar a mais avançada unidade de inteligência artificial do mundo, Ava – à qual deu as formas humanas de Alicia Vikander e até sexualidade – e precisa de alguém para um Teste de Turing. O Teste de Turing é quando um indivíduo interage com uma máquina e não se apercebe que esta é, na verdade, um computador, como Gleeson se apressa a explicar muito bem explicadinho para todos nós que não sabíamos o que era.

Obviamente que esse gato com o rabo de fora tem ainda outro raio de fora, mas nem sequer são estes twists e incerteza no argumento o melhor do filme. Onde Ex Machina nos ganha é na forma como Alex Garland aborda um tema complicado e, sem ser demasiado palavroso, científico ou explicativo, constrói um filme de actores, onde a palavra não só tem peso, como é determinante.

Além disso, Garland filma Ex Machina com grande sofisticação e elegância, dando espaço para o filme respirar e para o espectador pensar, sabendo tirar proveito da arquitectura daquela casa subterrânea onde Isaac vive e que é, ela própria, uma personagem do filme. Nesse campo, Ex Machina faz lembrar de certa forma Parasitas, se bem que aí a casa tinha um papel mais activo e determinante no desenlace do filme.

Até Ex Machina, graças a filmes como A Praia ou 28 Dias Depois, já sabíamos que Alex Garland era um dos grandes argumentistas contemporâneos. Mas depois disto, saltou imediatamente para o panteão dos granes nomes da realização da actualidade. É certo que Garland até pode ainda não ter cumprido essa promessa e feito o seu grande filme, mas se nunca o chegar a fazer, Ex Machina ficará como o melhor McRoyal Deluxe da sua filmografia.

Título: Ex Machina
Realizador: Alex Garland
Ano: 2014

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