| CRÍTICAS | Natureza Violenta

O slasher é um subgénero do terror bem estafado. Arrasta-se durante vários anos na lama, abusando dos clichés do género, até alguém ter um rasgo de génio. Depois, começa-se a abusar desses novos códigos e repete-se a história até à próxima grande ideia.

Natureza Violenta não vem provavelmente interromper esse ciclo, mas é uma pedrada no charco que sai fora do cânone. É um slasher como tantos outros – um grupo de jovens com hormonas a mais, sozinhos numa casa de campo com pouca rede, são atacados por um monstro sanguinário -, mas com um twist. É que o filme de Chris Nash segue a perspectiva da criatura.

O monstro aqui é Johnny (Ry Barrett), um jovem de um vilarejo de trabalhadores de uma pedreira que foi morto pela imprudência de alguns dos locais, que odiavam o seu pai por ser o único merceeiro da aldeia e ter os preços mais caros. Agora, de quando em vez, quando o seu espírito é perturbado, Johnny regressa do mundo dos mortos para se vingar daqueles que lhe aparecem à frente.

Natureza Violenta começa precisamente com Johnny a erguer-se da terra, depois de um grupo de meia dúzia de jovens em férias remexer nos escombros de uma torre de vigia em ruínas, onde o seu corpo repousa. A câmara nunca segue os jovens, mantendo-se sempre fixa nas costas da criatura, que, como todos os monstros dos slashers, não corre nem anda. Caminha apenas, de forma vagarosa, o que não o impede de perseguir e apanhar todas as suas vítimas. No entanto, isso imprime ao filme um ritmo devagar devagarinho, em que estamos a ver o monstro a caminhar. Sempre a caminhar.

Quando lemos que Natureza Violenta é um slasher que segue o ponto de vista do assassino pensamos imediatamente em algo como o Hardcore. Mas o filme de Chris Nash não poderia ser mais diferente. Natureza Violenta aproxima-se mais de Sasquatch Sunset, por exemplo, por causa do seu olhar reflexivo e quase etnográfico, sem banda-sonora sequer além da música dietética – Michael Haneke vai gostar disto. Isso faz dele um filme quase conceptual, mas que não deixa de seguir os códigos do slasher. E sempre que Johnny encontra uma vítima, o filme explode numa orgia de violência, apresentando inclusive uma das melhores mortes de sempre do género (spoiler: Johnny enfia a cabeça de uma jovem pelo seu próprio peito adentro).

O que não se compreende é que, no último acto, o realizador desista da sua própria premissa. Depois de aguentar o filme durante hora e meia, Chris Nash abandona o monstro e segue Andrea Pavlovic, a heroína do filme (heroína porque é aquela que sobrevive até ao fim), numa demorada cena em que apanha boleia de uma mulher que passa. Essa cena é uma piscadela de olho ao género, já que a mulher é Lauren-Marie Taylor, do Sexta-Feira 13 – Parte 2, mas não chega para redimir Nash, que assim não resiste ao “teste de paciência” (a descrição é do próprio) a que se propôs. E isso atraiçoa inevitavelmente o McChicken.

Título: In a Violent Nature
Realizador: Chris Nash
Ano: 2024

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