| CRÍTICAS | Robot Selvagem

A DreamWorks parece continuar sempre um passo atrás da Pixar e, também por isso, o seu novo Robô Selvagem há de parecer sempre um primo mais ou menos afastado de Wall-E. Tal como esse robô que sobreviveu à humanidade e continuou a operar diariamente de acordo com as tarefas para as quais foi programado, também este – Roz (voz de Lupita Nyong’o), um assistente programado para auxiliar qualquer pessoa em qualquer afazer – vai procurar insistentemente quem ajudar, mesmo depois de ter dado à costa de uma floresta sem vivalma à vista.

Wall-E não é a única referência que nos lembramos ao ver Robô Selvagem. Há outro título inevitável: O Gigante de Ferro, pela forma como um robô desafia a sua natureza em busca de uma certa… humanidade. E se juntarmos a isso a influência de Hayao Miyazaki, reclamada pelo realizador Chris Sanders, temos aqui uma trindade de peso como padrinhos do filme.

Roz é então um robô programado para auxiliar os humanos, mas que se vê perdido no meio do mato, sem nenhuma alminha por perto para fazer aquilo para o qual foi programado. Mais do que o bom selvagem, Roz é um tipo em busca da sua humanidade no meio do sítio das coisas selvagens. Até que um infortúnio vai dar um propósito à sua existência: Roz cai sobre um ninho, mata a mãe-ganso (Robô Selvagem é um filme para crianças que não tem medo de abordar o tema da morte de frente; e até há piadas recorrentes sobre como é fácil morrer na selva) e destrói todos os ovos que esta estava a chocar, sobrevivendo apenas um. A partir de agora, Roz vai tomar conta daquele ovo, até ele se tornar num ganso adulto e cumprir as três funções vitais que o seu sistema entende: alimentar-se, nadar e voar, sendo que o deadline é a chegada do inverno, quando a sua espécie terá de migrar para paisagens mais quentes.

Robô Selvagem torna-se então num filme sobre a parentalidade, mas também sobre a família, lembrando-nos pela enésima vez que a família não é necessariamente estabelecida pela sanguinidade. É, por isso, um filme com uma bonita mensagem e que nem sempre é fácil de abordar. Mas Chris Sanders fa-lo com uma honestidade e um coração tão grande, que este transborda e tapa todas as suas falhas. Como a relação demasiado apressada entre Roz e a raposa Fink (Pedro Pascal), por exemplo, que criam um laço de amizade bastante forte mesmo sem ter uma razão aparente para isso.

Também a animação de Robô Selvagem ajuda a criar ambiente, com texturas ricas que lhe dão profundidade, algo que se tem perdido nos últimos filmes bem perfeitinhos da Pixar (não consigo deixar de pensar no aborrecido mundo submerso de Luca). O que era completamente desnecessário era o filme te rum acto final a mais, numa tentativa forçada de lhe dar um final feliz. Depois de Brightbill (voz de Kit Connor) viajar para sul com os da sua espécie que, inicialmente, o renegaram e gozaram consigo (numa variação de O patinho feio), e depois de termos todos ficado com o coração muito pequenino com a despedida, era completamente escusado o filme continuar.

Não é que venha arruinar o crédito acumulado de Robô Selvagem, mas essa meia hora a mais estraga um filme quase perfeito, levando-o para um ou dois níveis mais abaixo. Mesmo assim, com o McBacon, não sei se Robô Selvagem não será mesmo a melhor animação de 2024.

Título: Wild Robot
Realizador: Chris Sanders
Ano: 2024

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