| CRÍTICAS | A Rapariga da Motocicleta

Em 1968, o realizador Jack Cardiff realizava um filme duplamente profético. A Rapariga da Motocicleta adivinhava a queda definitiva de Marianne Faithfull no caldeirão das drogas, num trip-movie em que o LSD tem um papel central, apesar de dissimulado, e antecipava em 1 ano a contracultura de Easy Ryder e a sua apologia da mota. A Rapariga da Motocicleta é o primeiro road movie de duas rodas e, apesar de ser mau como as cobras, é injustamente esquecido.

O filme abre e, em 5 minutos, já Marianne Faithfull se despiu duas vezes, mostrando que nudez não é um problema no filme. E a contagem não se ficará por aqui. Cardiff sabia perfeitamente que a sexualidade era uma tecla onde queria carregar. Aliás, ter Faithfull e Alain Delon como protagonistas, no auge da sua forma, e desaproveitar isso, além de suicídio comercial, seria uma estupidez. Portanto, A Rapariga da Motocicleta é um panfleto hippie, sobre a liberdade sexual e a emancipação feminina. Mas não só. Seria injusto e redutor limitar o filme a isso.

Marianne Faithfull é então uma rapariga existencialmentne atormentada, que só encontra a paz de espírito ao volante da sua Harley ou nos braços de Alain Delon. Por isso, uma manhã acorda e decide ir da França à Alemanha ter com ele, deixando o marido a dormir. Veste um fato de cabedal justinho, sem nada por baixo, e lá vai ela, com Jack Cardiff a tirar todo o partido da sensualidade de Faithfull e os produtores a abusarem, já que depois refizeram o filme e deram-lhe uma classificação xxx.

O resto de A Rapariga da Motocicleta é uma viagem inconsequente pelas estradas da Europa, perdidos nos pensamentos em off de Marianne Faithfull – numa autêntica filosofia de casa de banho – e em flashbacks que parecem teatrinhos de escola. Cardiff aposta tudo nos planos da motorizada. E, mesmo sem ter problema nenhum em reconhecer que há alguns momentos felizes, a maior parte das vezes perde-se e secas de paisagens fugidias. E depois não há paciência para as sequências tripé, com o melhor (pior) que os efeitos digitais permitiam na altura.

O final, que Dennis Hopper pilhou descaradamente para o seu Easy Ryder, é de uma brutalidade tão inesperada quanto desnecessária. Mas é o final ideal para toda a inconsequência de A Rapariga da Motocicleta. Um Happy Meal que só vale pela boa forma física de Marianne Faithfull e pela curiosidade cultural do filme.

Título: The Girl on a Motorcycle
Realizador: Jack Cardiff
Ano: 1968

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *