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Jesse Eisenberg tem tentado uma carreira bem eclética, experimentando um pouco de tudo. Conhecemo-lo sobretudo como actor, claro, se bem que tem alternado entre blockbusters (foi Mark Zuckerberg, claro, o seu papel mais celebrado, e foi… Lex Luthor, um dos mais bizarros castings de sempre) e filmes de autor ou independentes (com comédias indie e filmes do Woody Allen), mas Eisenberg é também escritor (colabora com o The New Yorker, por exemplo), já tentou o teatro (escreveu e interpretou três peças) e agora é também realizador. É certo que não vi toda a sua obra (obviamente que ninguém no seu perfeito juízo vai procurar ver a sua obra integral), mas pelo que conheço atrevo-me a dizer que Jesse Eisenberg não se destaca em nenhuma dessas facetas.
A Verdadeira Dor, com algumas nomeações a alguns dos mais importantes prémios da indústria (incluindo a dois Oscares), é um pequeno e honesto filme independente, mas que se encosta demasiado às suas referências. Woody Allen, com quem Eisenberg trabalhou em Café Society e Para Roma, Com Amor sendo um dos seus alter-egos, é a referência inevitável (o humor judeu, o estilo neurótico…), mas aquilo que em Allen parece natural, em Eisenberg parece sempre um pouco forçado. E depois há todos aqueles tiques de um certo cinema independente norte-americano, quando o independente passou a ser um género e não uma condição, que faz com que pareça que já vimos tudo aquilo em outros lados (e o próprio até começou a sua carreira de actor precisamente por aí, com A Lula e a Baleia).
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A Verdadeira Dor é um road movie, em que dois primos em tempos muito próximos, mas actualmente um pouco afastados (o próprio Jesse Eisenberg e Kieran Culkin), vão numa tour à Polónia por antigos locais do Holocausto, como forma de cumprirem o luto pela recém-falecida avó judia. Os dois não podiam ser mais diferentes: o primeiro é neurótico, introvertido e altamente responsável; e o segundo é expansivo, com queda para os excessos e, por vezes, inconveniente. São tão diferentes que às vezes até parece demasiado caricatural e temos dificuldade em manter a suspensão da descrença.
Existem paralelismos entre A Verdadeira Dor e The Darjeeling Limited, porque há também uma dimensão metafísica associada [spoilers: também aqui há uma tentativa de suicídio a ultrapassar], mas o filme de Jesse Eisenberg é mais circunstancial. É comovente, por vezes, e Eisenberg filma um campo de concentração com um respeito admirável, que faz com que seja um dos melhores filmes de sempre sobre a memória do Holocausto. E tudo isso vale, no mínimo, o Double Cheeseburger. Depois, os condimentos extras podem variar de acordo com a disposição e o momento de cada um de nós.
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Título: A Real Pain
Realizador: Jesse Eisenberg
Ano: 2024