
A carreira de Nicolas Cage atingiu uma fase interessante. Depois de uma série de anos (e filmes) que contribuíram para criar uma espécie de imagem anedótica, Cage está num momento em que, cada filme que estreia, vem acompanhado de grandes expectativas e de tiradas como pode ser o grande retorno do actor.
Plot twist: nunca é o grande retorno de Nicolas Cage. Até porque ele nunca se foi embora, não é? Mas a sua filmografia recente tem sido marcada por uma série de títulos… peculiares. O Surfista, por exemplo, foi seleccionado para Cannes e recebeu uma ovação de pé de 6 minutos(!). E pode ser o regresso de Cage, sim senhor. Plot twist: não é. Pelo menos, dessa forma em que estão a pensar.
O Surfista passa-se então na Austrália e começa com Cage a levar o filme adolescente a uma pequena praia paradisíaca, onde ele cresceu e onde está a tentar recomprar a sua antiga casa de infância (como se isso magicamente resolver todos os problemas da sua vida, incluindo o casamento), para surfar um pouco. Só que a praia está cheia de surfistas machões, que se auto-intitulam os Bay Boys, e que os afugentam ameaçadoramente sob o pretexto de que apenas os locais podem usar a praia.

O filho vai-se embora, mas Nicolas Cage vai ficando. Primeiro porque espera uma chamada do seu agente imobiliário; e depois porque há qualquer coisa de mais forte que o atrai aquele local. Por isso, em menos de nada, Cage vê-se fisicamente impedido de o fazer, até porque o seu carro é vandalizado e roubado. A outra personagem fundamental desta história é o sol, sempre a pique e a torrar, que torna tudo muito suado e pegajoso, começando a tornar tudo aquilo ainda mais louco. E todos sabemos como Nicolas Cage tem apetência para papeis de louco.
Inevitavelmente, a grande influência de O Surfista são os oxploitation, especialmente filmes como Long Weekend ou Walkabout, por todo aquele lado mais atmosférico. O realizador Lorcan Finnegan procura sublinhar isso com pequenos inserts do vestiário local, que ajuda a criar um ambiente muito particular, juntamente com uma paleta de cores explodidas.
Quando pensamos em filmes de surf pensamos, claro, em Ruptura Explosiva. Aqui também há um guru, mas Julian McMahon é completamente a antítese de Patrick Swayze. Os Bay Boys são bullies com muito pouco de zen, que perpetuam uma masculinidade tóxica cheia de testosterona, que torna este vilão colectivo mais perto de um culto do que de outra coisa qualquer. Por isso, O Surfista também vai beber ao folk horror, o que também lhe fica bem porque Nicolas Cage fez aquele lendário remake do O Sacrifício.
O Surfista está, por isso, cheio de bias ideias e referências. Lorcan Finnegan não consegue cozer isto tudo num resultado final completamente satisfatório, mas O Surfista justifica plenamente o Double Cheeseburger. Já a ovação de 6 minutos, em Cannes, deve ter sido de tanto sol…

Título: The Surfer
Realizador: Lorcan Finnegan
Ano: 2024