
Há uma nova fornada de filmes de acção a fazer furor, assentes numa hiper-estilização da violência. Podemos recuar à origem desse fenómeno a Matrix, mas foi John Wick que o colocou no patamar em que se encontra actualmente. Alguns exemplos da sua descendência directa são Contra Todos ou Ninguém, por exemplo.
Novocaine é o mais recente membro desta família, um hiper-estilizado filme de acção cruzado de comida negra. É a história de um tipo comum (Jack Quaid), tão tímido quanto nerd, que sofre de uma doença genética rara que faz com que não sinta dor. Literalmente. Ou seja, Quaid não come comida sólida para não correr o risco de trincar a própria língua sem se aperceber e tem um despertador marcado para todas as 3 horas para ir mijar antes que a bexiga rebente.
Até que entra em cena Amber Midthunder, uma nova colega no banco onde trabalha. Midthunder é a primeira a prestar-lhe atenção e a dormir com ele. A sua vida muda de tal forma que, quando uns bandidos encapuzados entram pelo banco adentro para roubar o cofre e acabar por a levar como refém, Quaid decidir perder o medo, encher-se de coragem e persegui-kid até às últimas consequências, fazendo da sua fraqueza a maior força.

Ao ser incapaz de sentir dor, Jack Quaid transforma-se numa espécie de super-herói involuntário. É a maximização daquele lugar-comum tão bem conhecido do anti-herói improvável, que está no local errado à hora errada e que se vê obrigado a intervir porque “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Os realizadores Dan Berk e Robert Olsen levam a violência de Novocaine a um exagero quase niilista, aproximando-o de Crank – Veneno no Sangue (e dos Looney Tunes), mas mantendo sempre um pé em algum realism, não só para ser mais fácil aguentar a descrença, mas também para que Novocaine seja fisicamente possível.
Novocaine é assim um entretenimento desavergonhado, que vai beber a uma certa herança de série b, com direito a twist e tudo. O problema é que Berk e Olsen não sabem quando parar e o filme tem meia-hora claramente a mais. Já não basta Ray Nicholson ser um vilão final altamente irritante, ainda temos que levar com um último acto daqueles capazes de arruinar todo um filme. E é precisamente isso que faz a este Double Cheeseburger.

Título: Novocaine
Realizador: Dan Berk & Robert Olsen
Ano: 2025