| CRÍTICAS | Robinson Crusoe

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Quando era gaiato, um dos primeiros livros que li sem ser do Patinhas foi o Robinson Crusoe. Li-o mais do que uma vez até. Fascinava-me aquela história de sobrevivência extrema e a conquista do homem sobre a natureza, sem me aperceber do espírito neo-colonialista que se apoderava de mim, especialmente quando o Sexta-Feira entra na história. Talvez seja por isso que o romance de Daniel Defoe é um dos mais populares clássicos da literatura mundial.

O sucesso dessa história já fez com que o livro fosse adaptado ao cinema (e à televisão) vezes sem conta. Aliás, vezes demais, diria mesmo. Um dos exemplos é esta versão, data de 1997, que foi originalmente feita para o pequena ecrã, mas que ganhou súbita distribuição comercial nas salas de cinema porque, ainda antes de estar feito, o seu protagonista Pierce Brosnan fora anunciado como novo James Bond. Quem não se lembra de ver o inglês nessa conferência de imprensa com uma longa barba de sem-abrigo? Só mais tarde viemos a perceber que não era de sem-abrigo, mas sim barba de náufrago.

Este Robinson Crusoe não tem qualquer pudor em alterar livremente a história original para servir os seus motivos dramáticos. Assim, Crusoe tem aqui uma motivação amorosa para ter que abandonar a sua Escócia natal como marinheiro da armada britânica do século XVIII, para naufragar e ir parar a uma ilha deserta. É a quintessência do survivor movie, mas o excesso de velocidade com que o filme despacha essa adaptação de Crusoe ao novo ambiente quase que causa enjoos. Piscamos os olhos e quando os abrimos já Crusoe construiu alta mansão feita de canas e colmo, com pontes, poços, elevadores e uma estância de ski.

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Depois entra em cena Sexta-Feira e parece que o filme vai apostar tudo naquele confronto entre a nova dupla de amigos – um proto-bromance – e a tribo que há de voltar para ajustar contas. Robinson Crusoe entra em modo-Esquadrão Classe A e começa a montar uma série de armadilhas, mas que afinal vai ser só uma ponte armadilhada e uns paus afiados suspensos. Até Arnie fez mais com muito menos, em Predador. Chegam então os maus, Robinson Crusoe toca gaita-de-foles(!) só para o cenário e, quando começa a fogachada a sério, descuidamo-nos a coçar a cabeça e quando olhamos já tudo terminou novamente.

Há ainda um terceiro acto, mas já estamos demasiado aborrecidos para prestar atenção. Tudo é chato e até condescendente de mais, nem sequer aproveitando o cariz meramente aventureiro que a história tem, antecipando em séculos as matinés domingueiras que iriam fazer de Errol Flynn uma estrela. Felizmente que o pessoal que contratou Pierce Brosnan para servir Sua Majestade não viu este filme antes, caso contrário arriscavam-se a tomar uma decisão diferente. É que este Robinson Crusoe é um Pão com Manteiga do mais dispensável que a sétima arte já serviu.pa%cc%83o-com-manteigaTítulo: Robinson Crusoe
Realizador: Rod Hardy & George Miller
Ano: 1997

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