Depois de ter andado a viajar pelo mundo, com filmes em Itália, França ou Espanha, Woody Allen parece ter voltado a assentar arraiais na sua Nova Iorque natal. E isso aparentemente tem vindo a fazer-lhe, à medida que se vem reencontrando com o seu cinema. O seu novo Café Society é um filme onde reencontramos todas as suas marcas autorais e as suas paixões pessoais: o fascínio por uma época específica em particular, os anos 30 em Hollywood (Meia-Noite em Paris também o era, mas na belle époque francesa), o jazz e até a própria Nova Iorque.
Limitando-se ao lugar de narrador, algo que não acontecia desde Os Dias da Rádio, Woody Allen monta uma pequena novela com aquele seu ritmo cocainado, com os diálogos disparados a mil e uma economia narrativa que, apesar de deixar o filme apenas com uma curtinha hora e meia, consegue contar a sua história e prestar atenção aos seus personagens. Mais uma vez, a temática do filme são as relações amorosas disfuncionais, se bem que ao de leve tudo tem um ar ingenuamente lúdico. Falta-lhe no entanto o humor inteligente que caracteriza Woody Allen e que aqui nem sequer o encontramos nas entrelinhas dos seus diálogos, estando apenas limitado à personagem de Jeannie Berlin.
Steve Carell é então um bem-sucedido agente de Hollywood naquela década de ouro em que o star system existia mesmo, cujos seus amigos e sócios é uma lista infindável de name dropping que deixa qualquer um impressionado. Quando a sua irmã da província o avisa que o sobrinho, Jesse Eisenberg (aqui a encarnar a habitual projecção da persona de Woody Allen), está a caminho para tentar a sua sorte na cidade dos sonhos, Carell arranja-lhe um pequeno emprego como mensageiro na sua agência, que lhe vai permitir ir subindo aos poucos na vida. O que nenhum dos dois sabia é que ambos se iriam apaixonar pela mesma mulher: Kristen Stewart.
O pior de Café Society é mesmo o misscast dos seus protagonistas. Jesse Eisenberg continua a levar longe de mais a sua piada em teimar fazer passar-se por actor sem que ninguém se aperceba e sem que nós percebamos muito bem se é ele que anda a imitar o Michael Cera ou se é o Michael Cera que o anda a imitar a ele. No entanto, aqui tem um ponto positivo. É que consegue fazer parecer que Kristen Stewart consegue ter algum encanto…
Filmado pela primeira vez todo em digital, Café Society mostra um Woody Allen a fazer coisas novas câmaras, sem se limitar em tê-la ao ombro. Há travellings com fartura e um estranho fascínio pelos contra-picados. E há alguns momentos que chegam a estar mesmo ao nível do melhor Allen deste século XXI. No entanto, depois há um final em suspenso, que não deixa de ser algo frustrante. Depois de Almodóvar, no seu último Julieta, também vem Allen deixar-nos água na boca com um final em aberto. Mas não é isso que alteraria o McBacon que saca facilmente.Título: Café Society
Realizador: Woody Allen
Ano: 2016