Apesar do título e da produção de JJ Abrams, 10 Cloverfield Lane não tem propriamente nada a ver com Missão de Código: Cloverfield, como seria de esperar. Podemos dizer que este é uma espécie de sequela… espiritual. À partida a coisa até pode deixar um gostinho na boca a fraude, mas pensamos bem na questão e quanto mais pensamos mais sentido faz, tendo em conta a linha de montagem que se tornou Hollywood actualmente: e se todos os filmes, a partir de agora, fossem todos sequelas de um mesmo filme?
Claro que sabemos que JJ Abrams tem mais qualquer coisa que esses tarefeiros anónimos que atolam as salas hoje em dia. E isso dá-lhe crédito para poder fazer coisas destas. Ou seja, apadrinhar a estreia de um realizador novato, com um argumento que lhe gosta, e inseri-lo na família dos seus trabalhos virais (sim, também há aqui a Slusho, por exemplo).
10 Cloverfield Lane é então a história de uma fulana em fuga (Mary Elizabeth Winstead, a Ramona de Scott Pilgrim). Numa abertura de génio, sem diálogos e apenas com música, o realizador Dan Trachtenberg conta-nos tudo o que nos interessa saber sobre aquela rapariga que vai num automóvel no meio de nenhures, a recusar as chamadas insistentes de quem presumimos ser o seu (ex)mais-que-tudo. E de repente tem um acidente! Lembramo-nos inevitavelmente de Psico e não é por acaso que 10 Cloverfield Lane tem sido apelidade de Hitchcockiano.
Mas ao contrário de Psico, a heroína não morre a meio do filme. Acorda antes algemada num bunker, onde um homem teima em dizer-lhe que aconteceu o holocausto lá fora e é impossível sair em segurança. Eis a primeira coisa realmente assustadora do filme: John Goodman a fazer de mau num horror movie! No entanto, nunca temos a certeza se aquele tipo está a mentir ou se é só mesmo um gajo estranho. E voltamos a territórios hitchcockianos, especialista em ameaças familiares.
10 Cloverfield Lane podia ser uma história de Stephen King (olá Misery – Capítulo Final), não tanto pelo suspense, mas pela quantidade de vezes que se diverte a tirar-nos o tapete debaixo dos pés. Contudo, Dan Trachtenberg não é propriamente hábil a gerir a tensão naquele espaço fechado. No entanto, o que lhe falta em inspiração compensa com eficácia, despachando o filme com economia e sem tretas. O que já é mais do que a maioria dos actuais horror movies tem para nos oferecer. Além disso, este ainda nos dá um acto final que faz, finalmente, uma ténue ligação para com o filme original de JJ Abrams, deixando a porta aberta para outras sequelas mais ou menos directas. No entanto, o McChicken é todo ele para o seu carácter de série b do que para qualquer possibilidade de sequela ou spin-off.
Título: 10 Cloverfield Lane
Realizador: Dan Trachtenberg
Ano: 2016