Existem várias discussões eternas no Cinema (aliás, em todas as artes, como aquela na Música que pergunta quem é melhor, os Beatles ou os Rolling Stones; os segundos, claro!), sendo a mais comum aquela que coloca frente a frente Charlie Chaplin e Buster Keaton. Quem era o melhor? Obviamente que compreendo e aceito quem prefira o primeiro, mas essas pessoas estão erradas e eu odeio-as.
A outra discussão é a de quem é que dançava melhor, se Fred Astaire ou Gene Kelly. Para quem responde o primeiro nome, basta ver Serenata à Chuva para desfazer qualquer dúvida. Kelly não só dança e faz dançar, como arrisca e inova. Consta que era um sacana dum tirano, mas isso não interessa para nada. Interessa mais o mito urbano de que a famosa cena em que dança feliz à chuva foi feita ao primeiro take, com não sei quantos graus de febre. Ou que Donald O’Connor, depois de pilhar o Cole Porter na famosa cena que termina com duas piruetas digna dos melhores praticantes de parkour, ter ficado dois dias de cama, completamente exausto. É este o material de que são feitas as lendas.
É por estas e por outras que Serenata à Chuva é um dos melhores musicais de sempre. E, apesar da ideia feita de que este era um género escapista que só servia para entreter a malta, Serenata à Chuva está aqui para provar o contrário, com a história de um casal de estrelas do cinema mudo que vêem as suas carreiras ameaçadas pelo advento do sonoro. Serenata à Chuva é a versão light de O Artista, mas com muita graça e, claro, boas canções e ainda melhores coreografias.
De estranhar só mesmo o facto de quase nenhuma das músicas ter sido escrita para o filme, nem mesmo a que lhe dá o título. Mas nada que surpreenda, tendo em conta que o próprio filme foi feito ao contrário: primeiro escolheram os temas e depois escreveram uma história que as desse para usar todas. Um Royale With Cheese do melhor que há.Título: Singin’ in the Rain
Realizador: Stanley Donen e Gene Kelly
Ano: 1952