| CRÍTICAS | Kubo e as Duas Cordas

Até hoje, quando pensávamos em animações com samurais pensávamos invariavelmente em anime. Mas esses dias estão acabados. Porque agora existe Kubo e as Duas Cordas, o novo filme da Laika, produtora que está a elevar a técnica do stop motion a um novo patamar de sofisticação.

Kubo (voz de Art Parkinson) é um jovem cm uma estranha habilidade para animar papel ao tocar o seu shamisen, a típica guitarra japonesa de três cordas. Kubo vive com a mãe numa caverna e esta, apesar de estar meio catatónica, tem laivos de lucidez suficiente para o avisar para nunca estar na rua à noite, altura em que as bruxas das suas tias e o seu demoníaco avô o buscam incessantemente para lhe roubar o olho que lhe resta. Até que um dia Kubo desobedece a essas ordens e vai ter que embarcar numa demanda épica, ajudado por uma macaca (voz de Charlize Theron) e um shaolin-escaravelho (voz de Matthew McCounaghey).

Mais do ir beber ao imaginário dos filmes de ninjas e shaolins (alguém mencionou Akira Kurosawa?), Kubo e as Duas Cordas inspira-se no realismo mágico oriental, que nos últimos anos temos absorvido nos filmes de Apichatpong Weerasethakul. É um filme que deve muito à tradição oral de contar histórias, sendo a trama uma metáfora disso mesmo. Disso e da dicotomia vida e morte, abordando esta última sem o habitual paternalismo da maioria dos desenhos-animados.

Apesar de haver uma mensagem moral, esqueçam a Disney e a Pixar e todos os seus sucessores (apesar de haver aqui animais antropomorfizados, isto é outro território). Kubo e as Duas Cordas rima antes com as animações do estúdio Ghibli, outra herança incrível da cultura popular japonesa. E, com esta simplificação narrativa, Kubo e as Duas Cordas consegue montar uma aventura mais épica que o épico Vaiana, que o procura sendo maior, mais barulhento e mais colorido, e que apenas consegue ser grande, mas totalmente oco por dentro.

Kubo e as Duas Cordas coloca a Laika cada vez mais numa posição de destaque, que se torna cada vez mais difícil de ignorar. Basta ver a sofisticação e impoluto bom gosto do realizador e director da Laika, Travis Knight, ao colocar como theme song do filme um versão impecável do While my guitar gentle wheeps pela Regina Spektor. E não se admirem de ver este título presente em muitas listas dos melhores filmes do ano de muita gente respeitável. É um McRoyal Deluxe e provavelmente a melhor animação de 2016.

Título: Kubo and the Two Strings
Realizador: Travis Knight
Ano: 2016

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