| CRÍTICAS | Hell or High Water – Custe o que Custar!

Apesar de já ter sido dado como morto éne vezes, o western continua a dar sinais de vida de quando em vez, em inúmeras variações. Desde as mais previsíveis (olá Os Três Enterros de um Homem) às mais improváveis (olá Profissão: Duro), o que não faltam aí são filmes que pegam nos códigos desse género tão norte-americano e o adaptam as dias de hoje.

High Hell or High Water – Custe o que Custar é um desses alt-westerns, que refaz o filme de caubois na contemporaneidade, com pickups onde dantes havia cavalos, mas mantendo os duelos na poeira, a paisagem e os vaqueiros. A novidade é que o realizador, David Mackenzie, utiliza o género para engajar o filme numa agenda socio-política muito específica, que é tanto americana quanto global: a da crise económica provocada pelos bancos, que no Texas assume proporções assustadoras no que diz respeito ao desemprego, à falta de oportunidades e, consequentemente, às hipotecas, às situações de pobreza e, claro, ao crime. Por isso, aquele plano sequência de abertura que passa por um grafitti numa parede de um banco que diz 3 tours in iraq but no bailout for me é quase um caderno de encargos do que vamos assistir na próxima hora e meia.

Assim, High Hell or High Water – Custe o que Custar é um dos três filmes de intervenção de 2016 para colocar bem ao lado de A Lei do Mercado e de Eu, Daniel Blake. Dois irmãos,um com cadastro (Chris Pine) e outtro bem comportado (Ben Foster), fazem um plano para salvar o rancho de família ao fazerem uma  uma série de pequenos assaltos a bancos. No seu encalço vão ter Jeff Bridges (que se está a transformar lentamente no Tommy Lee Jones, mas com a gravidade das rugas deste a concetrarem-se no seu bigode farfalhudo, desde que se transformou em cauboi em Crazy Heart), ranger a poucos dias da reforma que encontra aqui uma última cartada em se manter activo.

Bridges, que passa o filme a lançar insultos racistas ao seu colega meio índio, meio mexicano (Gl Birmingham), e que nesta fase pós-Trump ganham outro eco para lá da ironia bem disposta, é ainda uma metáfora de um certo tempo que se esgota e que encontramos a espaços, seja nas empregadas decrépitas dos diners tão decrépitos quanto elas, seja nos vaqueiros que fazem pela vida para sobreviver a um mundo sem trabalho e sem dinheiro. David Mackenzie potencia esta cultura americana com a banda-sonora impecável de Nick Cave e Warren Ellis e as panorâmicas do Texas interminável.

É certo que no acto final, High Hell or High Water – Custe o que Custar tomba um pouco para o cinema de acção desmiolado, mas nada que afecte em demasia a solidez do filme. Apesar de não ser mais do que um McBacon, High Hell or High Water – Custe o que Custar tem ganho um reconhecimento inesperado um pouco por todo o lado, uma vez que já não estamos habituados a ver este médios filmes de Hollywood tão eficazes.

Título: Hell or High Water
Realizador: David Mackenzie
Ano: 2016

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