Corrida da Morte no Ano 2000 era uma xungaria desmiolada, mas era um produto bem do seu tempo. Em 1975 vivia-se num tempo de desânimo, na ressaca do flower power, com o fim da contracultura e com a Guerra Fria e o Vietname a atingirem o seu pico. Se virmos bem, não é um sentimento muito diferente do que vivemos hoje em dia. O ódio tomou conta das nossas vidas, a extrema-direita ameaça a Europa, o Trump subiu ao poder e os media estão totalmente manipulados pelas fake news e a pós-verdade. Ou seja, altura ideal para Roger Corman, o rei da série b, patrocinar uma sequela.
Agora com a fasquia na distante data temporal do ano 2050, Death Race 2050 mantém o espírito xunga e pateta over the top do filme original, onde tudo é possível. A premissa é a mesma, recordemo-nos: estamos no futuro, o trabalho tornou-se obsoleto e as pessoas, além de se terem tornado preguiçosas, existem em demasia no mundo. Por isso, a corrida transcontinental transmitida em directo para a televisão em modo o maior espectáculo do mundo é uma forma doentia de trazer, de alguma forma, equilíbrio ao planeta. Até porque atropelar pessoas dá pontos. E grávidas e velhinhos continua a dar bónus!
Esta distopia futurista e disfuncional funciona como metáfora ao mundo do entretimento actual, com as suas estrelas efémeras (que fazem os 15 minutos de fama preconizados por Warhol parecerem uma eternidade), artistas pop descartáveis com canções ainda mais descartáveis e enlatados televisivos que não são para se ver com o cérebro desligado, são para se ver sem o cérebro. O problema é que esta crítica social é carregada e sublinhada a traço grosso, transformando a metáfora em caricatura niilista, que consome tudo à sua volta.
Pode trazer alguma nostalgia o facto de Death Race 2050 não recorrer ao CGI manhoso e apostar nos carros artilhados com adereços de cartão e pôr a imagem em fst forward para parecer que vão a alta velocidade. Mas o erro de casting de todos os actores faz com que não criemos empatia com ninguém (mesmo que lá ande o Senhor Perigo em pessoa, Malcom McDowell), esgotando-se os motivos de interesse à medida que o gore se vai dissipando e as mortes e atropelamentos gratuitos (também eles lgo envergonhados, especialmente tendo em conta o palmarés dos filmes de Roger Corman) se vão banalizando. Tal como o que pretende criticar, Death Race 2050 é entretimento descartável e um Happy Meal que não faz esquecer o seu antecessor (que também não era bom, diga-se).Título: Death Race 2050
Realizador: G.J. Echternkamp
Ano: 2017