Quando terminada, a última cena de Planeta dos Macacos – A Origem já antevia o que aí vinha. O vírus que havia aumentado as capacidades cognitivas de Caesar espalhara-se rapidamente pelos quatro cantos do globo e, claro, os efeitos eram devastadores. Eis então chegado Planeta dos Macacos – A Revolta, que dá um salto de dez anos desde essa última cena.
No genérico inicial ficamos logo a saber o que aconteceu nessa década que passou. A febre símia propagou-se e foi dizimando a população a nível global. O que temos agora é um futuro não muito distante pós-apocalíptico, em que a natureza voltou a tomar conta de grande parte do que o homem lhe havia conquistado. Ao mesmo tempo, os macacos – liderados por Caesar (Andy Serkis) e por Koba (Toby Kebbell) – também se desenvolveram, consolidando uma comunidade onde começam a comunicar finalmente por palavras. Até que as necessidades da vida vai colocar em choque os humanos e os símios. A solução então é uma de duas: ou a colaboração ou a guerra.
Como em toda a boa ficção-científica, também aqui a realidade alternativa do apogeu dos macacos em oposição ao declínio dos homens funciona como metáfora. Uma metáfora sobre o racismo e a segregação, sobre o esclavagismo e a obediência, mas também como uma reflexão sobre a sobrevivência do mais apto. Que, aliás, é uma máxima que atravessa todos filmes do franchise, desde o original O Homem que Veio do Futuro e todas as suas sequelas manhosas, até ao remake de Tim Burton e a anterior sequela.
Tal como os macacos que aprendem por experiência e erro, também Planeta dos Macacos – A Revolta aprendeu com Planeta dos Macacos – A Origem. Ou seja, resistiu à tentação de se entregar ao maravilhoso mundo da masturbação digital e deu primazia ao argumento e às personagens. Ou seja, tal como o anterior, também Planeta dos Macacos – A Revolta é um filme-pipoca com coisas autênticas para dizer e que perde tempo em conta-las.
Isso não implica que não haja fogachada e fogo-de-artíficio com fartura, até mais que no último filme. Afinal de contas, este episódio conta a história de como a comunidade símia não só se afirmou, como a sua coexistência pacífica com os humanos deixará de ser possível. E, pela primeira vez ao fim de não sei quantos filmes (sete? oito?), não é feita nenhuma referência ao filme inicial nem sequer utilizada a tão célebre take your stinking paws off me you damn dirty ape. Ou seja, Planeta dos Macacos – A Revolta é o filme em que o franchise se liberta do seu criador e inicia o seu percurso autónomo. E ao repetir o McBacon do antecessor Planeta dos Macacos – A Origem está a provar que este é o mais interessante e bem-sucedido reboot desta vaga de reboots que tem inundado Holywood.Título: Dawn of the Planet of the Apes
Realizador: Matt Reeves
Ano: 2014