Nos últimos anos, Hollywood tem tentado uma aproximação mais ou menos subtil à China, tentando penetrar num mercado tão grande quanto apetecível. Como a coisa nem sempre tem corrido bem, há que deixar de lado qualquer pudor e agarrar no touro pelos cornos. Eis então que chega A Grande Muralha, a produção mais cara de sempre do cinema chinês, com uma das maiores estrelas de Hollywood como protagonista (olá Matt Damon) e sobre uma história do imaginário da China que apela tanto ao mercado ocidental como oriental.
Toda a gente conhece então a grande muralha da China, uma das sete maravilhas do mundo. Estende-se por mais de 6 mil quilómetros e servia, sobretudo, para proteger o império chinês dos inimigos euroasiáticos. Além disso, são vários os mitos urbanos que rodeiam a muralha. E não, não estou a falar daquele que diz que ela é a única construção humana vista do espaço. Estou a falar de umas lendas orientais de que serviria para proteger a nação de outros invasores menos… humanos.
A Grande Muralha é então a história de como a China ergueu um muro a perder de vista (mas pago por eles, não pelos vizinhos) para se proteger de uns dinossauros extraterrestres, extremamente violentos e vorazes. Com um exército altamente treinado, inclusive na arte do rappel(!) e do bungee jumping(!!) – sim, alguém achou que seria boa ideia incluir uns números bélicos que envolvem umas mulheres a fazer bungee jumping na muralha com uma lança na mão -, é óbvio que os chineses só iriam conseguir derrotar os monstros com a ajuda daqueles dois forasteiros ocidentais (Matt Damon e Pedro Pascal) que ali apareceram para roubar os segredos da pólvora e que, apesar de não terem nenhuma aptidão especial para serem os salvadores do dia, são brancos e, claro, isso é tudo o que interessa.
Já sabemos Yimou Zhang gostava de grandes opulências (lembram-se de Herói, de O Segredo dos Punhais Voadores ou da abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim?), por isso não havia outra escolha possível para assinar o filme mais caro de sempre da China. No entanto, não se percebe porque é o CGI tão mau. Parece sempre que estamos a ver um jogo de computador, com tudo demasiado plástico, especialmente os monstros, que não têm alma nenhuma e, por isso, não assustam ninguém. Que saudades do tempo de ver filmes de criaturas a sério, como o Alien ou o Predador (mas não os dois ao mesmo tempo, por favor).
Também não se sabe se Zhang teve que cortar o filme para ficar mais curto por imposição dos produtores e distribuidores, mas o que é certo é que há claramente cenas que ficaram perdidas no chão da sala de montagem. É que o argumento dá saltos constantes, entre cenas que não são explicadas, limitando-se a amontoar cenas que acontecem simplesmente porque está escrito no guião que têm que acontecer e não por qualquer imposição da história. E que simpáticos terem deixado o Willem Dafoe participar depois de ele ter aparecido lá no set de visita. Foi atencioso da parte deles, mas podiam ter-lhe inventado ao menos uma personagem secundária…
Portanto, há muito pouca coisa que valha a pena em A Grande Muralha. Assim de repente, que me lembre, só mesmo o Happy Meal que leva daqui para casa. Aparentemente é um épico grandiso, mas no fundo é só um pechibeque da loja do chinês.Título: The Great Wall
Realizador: Yimou Zhang
Ano: 2016
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