A sétima arte sempre teve um fascínio especial pelo tubarão, especialmente desde (claro) O Tubarão, ou não fosse este o maior predador da natureza (se bem que Dino de Laurentis ainda tentou destrona-lo com a sua Orca – A Fúria dos Mares). No entanto, nestes últimos anos o fenómeno tem ganho dimensões mais ou menos ridículas, graças ao empenho do SyFy (que até já promove uma shark week). E se Sharknado ou Tubarão Fantasma até têm alguma piada, a maioria é totalmente descartável.
Até que surge Águas Perigosas, o filme que nos volta a restaurar a esperança nos filmes de tubarões. Até porque este não é um simples filme de tubarões. É também um survival movie, daqueles com um só actor num só espaço. Lembramo-nos de Enterrado, de Cabine Telefónica ou de Locke, por exemplo, tudo títulos que nos remete para este, em que Blake Lively é uma jovem surfista que, numa praia deserta do México, fica isolada num rochedo minúsculo cercado por um tubarão branco esfomeado. Isolada não, porque a fazer-lhe companhia está sempre uma gaivota(!), que parece aquele frango pateta de Vaiana.
Jaume Collet-Serra parece ter feito, não só, o trabalhado de casa e visto todos os filmes que interessavam, como (mais importante ainda) soube aprender com os seus erros para não os repetir. Assim, percebeu que, tal como O Tubarão, este é um filme de monstros em que pouco se vê a criatura, privilegiando o suspense em vez do grafismo. E, por exemplo, ao contrário de outros filmes de sobrevivência que não souberam aguentar a história só com um actor sozinho num espaço confinado (alguém mencionou 127 Horas?), Águas Perigosas nunca recorre a flashbacks manhosos ou outros truques para encher chouriços.
É certo que Águas Perigosas tem o seu momento de filme de surf, mas os planos brutais da praia deserta, com a sua água cristalina e areia a perder de vista, compensam essa estopada para todos aqueles que não querem saber de gente em cima de pranchas. Assim que entra em cena a ameaça do tubarão, o filme foca-se no que realmente interessa, numa escalada de suspense devidamente acompanhada pelo solo de Blake Lively, que cada vez vai ficando mais cortada, macerada e esmagada.
Ao ser um filme extremamente curto – são menos de hora e meia -, Águas Perigosas assume-se como um extremamente feliz (e condensado) série b, que não só não o esconde como o assume. E isso é o melhor de um McRoyal Deluxe que não escorrega nas suas próprias armadilhas.Título: The Shallows
Realizador: Jaume Collet-Serra
Ano: 2016