Existem filmes que, inexplicavelmente, caiem no esquecimento geral sem se perceber muito bem porquê. Os Passageiros do Tempo é um desses exemplos. Independentemente de ser bom ou mau, um filme que tem o Malcom McDowell a fazer de HG Wells, que viaja até à actualidade para capturar o Jack, o Estripador(!) que lhe roubou a máquina do tempo(!!) merece sem dúvida, nem que seja um bocadinho, o nosso amor.
HG Wells foi um homem muito à frente do seu tempo, como o filme faz questão de realçar, mas que, nos dia de hoje, não recebe grande crédito por isso. É uma espécie de Tesla que a internet ainda não descobriu, que antecipou o socialismo ou a emancipação feminina, por exemplo. Além disso, o escritor e pensador inglês experimentou ainda a invenção, tendo criado uma máquina do tempo – que iria influenciar o seu romance homónimo – que nunca funcionou. Ou será que funcionou?
Os Passageiros do Tempo pega na hipotética hipótese de Wells ter conseguido mesmo inventar as viagens no tempo. No entanto, quando a máquina cai nas mãos erradas de Jack, o Estripador, e este foge para a actualidade norte-americana (porque tal como os alienígenas invadem sempre os Estados Unidos, também as máquinas do tempo viajam sempre para a land of the free), Wells sente-se na obrigação de o perseguir e capturar. Não deixa de ser curioso que HG Wells, um pacifista que acreditava que o futuro iria ser utópico após abraçar o socialismo, seja aqui interpretado por Malcom McDowell, o Senhor Perigo em carne e osso.
Nicholas Meyer, realizador com pergaminhos no universo Star Trek (tendo sido inclusive o realizador de , um dos melhores episódios da série), assina um claro filme sobre viagens no tempo (onde nem sequer falta os momentos de choque de Wells num século à frente do seu, como quando vai tomar o pequeno-almoço aquele restaurante escocês, o McDonalds), mas extremamente marcado pela estética do cinema dos anos 70, especialmente do thriller e do policial. Basta ver as perseguições de automóvel, que têm Bullitt escrito por todo o lado, ou uma perseguição a pé entre Wells e o Estripador (um impecável Jack Warner) que é a segunda melhor de todo o cinema, logo atrás da de Ruptura Explosiva.
Antes de terminar, duas curiosidades. A primeira é que Mary Steenburgen apaixona-se aqui, pela primeira vez, por um viajante do tempo, algo que repetiria anos mais tarde em Regresso ao Futuro 3. E a segunda é que Os Passageiros do Tempo marca a estreia no grande ecrã dessa lenda do cinema que foi (é?) Corey Feldman, então ainda (mais) novinho. Apesar de parecer que é apenas uma salgalhada do género Billy The Kid versus Drácula, Os Passageiros do Tempo merece muito mais a nossa atenção e um McBacon naquele tal restaurante escocês.
Título: Time After Time
Realizador: Nicholas Meyer
Ano: 1979