Existem três filmes sobre o milagre de Fátima – a aparição da Virgem Maria a três pastorinhos sobre uma oliveira, na Cova da Iria, em 1917 – e todos de nacionalidade diferentes. Este, americano, datado de 1952; um espanhol, feito em 1946; e um português, Fátima, realizado em 1997. E não é que, curiosamente, o português é o piorzito dos três- Nem as nossas próprias histórias conseguimos contar melhor que os outros.
Milagre de Fátima é quase um documento de propaganda religiosa, mais ou menos consciente, se não fizesse de forma involuntária (ou não) uma crítica à faceta capitalista do milagre. Esta crítica é encarnada pela personagem de Hugo (Gilbert Roland), a única liberdade ficcional do filme em nome das necessidades dramáticas, que é um céptico que se aproveita da visão para sacar uns trocos ao vender rosários aos visitantes da Cova da Iria. Ou seja, o mesmo que faz a igreja portuguesa no santuários hoje em dia.
Mas basta atentar ao contexto social, cultural e político do Portugal de 1917 para achar aquela aparição muito suspeita – no alinhamento do que dizem, aliás, muitos adeptos das teorias da conspiração e negacionistas de Fátima. E que se vivia na ressaca da restauração da República e atravessava-se tanto uma perseguição à religião como se estava prestes a divorcia r o Estado do Catolicismo (amén). Por isso, nada mais pertinente do que um milagre em Portugal para justificar a nova força do clero e reforçar o seu poder institucional e económico.
Milagre de Fátima faz muito bem este enquadramento e até podia vir a ser um excelente filme ao colocar certas coisas em reflexão, mas depois limita-se a seguir pelo caminho da beatificação e da propaganda religiosa. No entanto, embrulha isto num technicolor que tira uns postais da aparição mais apelativos do que a maioria das imagens da própria igreja Católica e numa realização nada atrapalhada, que a Hollywood clássica fazia com uma perna às costas na sua longa linha de montagem.
De referir ainda a adaptação bastante fiel do milagre, com o filme a ser filmado em Portugal, a utilizar os nomes verdadeiros e as localizações correctas – se bem que às vezes tudo parece algo… maxicano. No entanto, consta que a Irmã Lúcia, quando o viu, não gostou. Mas é difícil fazer melhor que este McChicken quando o caderno de encargos é este.Título: The Miracle of Our Lady of Fatima
Realizador: John Brahms
Ano: 1952