Os anos 70 foram uma década do caraças para a história do cinema – enterrou-se o cinema clássico de Hollywood, passou-se a dar mais atenção ao cinema europeu e os filmes ganharam liberdade para quebrarem tabus e preconceitos. Foi a década dos movie brats e de todo um cinema que inaugurou a contemporaneidade. Contudo, foi também a época de todos os excessos, dos exploitation movies, de coisas como o porno chic (Garganta Funda, anyone?) ou bizarrarias indescritíveis como Festival Rocky de Horror.
Um desses objectos surreais foi Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band, um filme-musical de Michael Schultz baseado na música dos Beatles, que é actualmente considerado um dos piores filmes de sempre. Schultz devia estar ganzado ou a gozar (ou ambos) quando teve a ideia para o filme. Deve ter sido algo do género ah e tal, se O Submarino Amarelo teve sucesso, que tal se pegarmos nas bandas da moda de agora e fazermos o mesmo com o resto das músicas dos Beatles?
Eis então Peter Frampton e os Bee Gees reunidos para perpetuarem o espírito da Sgt. Peppe’s Lonely Heat Club Band, a banda mágica e mítica de Heartland. Verdadeiros reis da pop (roam-se de inveja Beatles e Beach Boys!), a banda vai assinar contrato por uma grande editora e partir em digressão mundial, perecendo aos encantos do sexo, drogas e rock’n’roll. Entretanto, um malvado agente imobiliário, o senhor Mustars (Frankie Howerd), vai tentar destruir Heartland e apoderar-se dos instrumentos mágicos para patrocinar a Future Villain Band (interpretados pelos míticos Aerosmith).
Nos Estados Unidos a especulação imobiliária deve mesmo ser um pesadelo terrível. Já os grandes planos do Lex Luthor, tanto em Super-Homem como em Super-Homem: O Regresso envolvem altos esquemas de compra e venda de apartamentos e edifícios. Para quando um filme português sobre os bastidores malignos da Remax?
O filme não tem diálogos e sobrevive de um narrador (Donald Pleasence), alguns intratítulos e, sobretudo, das músicas dos Beatles. Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band é um musical gigante, semelhante à fórmula que Moulin Rouge tomou para si e soube explorar e sofisticar. Estava-se nos anos 70 e a droga devia ser mais que muita. Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band reflecte na perfeição esse espírito, com um caleidoscópio de bizarrarias, que inclui Alice Cooper na pele de Mr. Sun e Steve Martin, a debutar no cinema com uma interpretação de “Maxwell’s Silver Hammer”. Priceless.
Sgt. Pepper’s Lonely heart Club Band é um filme que traduz o espírito moralmente correcto da música pop e que, por isso, parece querer atingir um público alvo abaixo dos 15 anos. É demasiado cheesy e por vezes assustadoramente camp, mas como alguém escrveu algures, é como um acidente de viação: nós não queremos vê-lo, mas é impossível resistir. Como é que podemos resistir a Billy Preston vestido de Sgt. Pepper e a cantar “Get Back”?
Digam o que disserem, Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band não é tão mau quanto o pintam, tal como as versões dos Bee Gees e do Peter Frampton. Confrangedora só mesmo os Earth, Wind + Fire a cantarem “Got To Get You Into My Life”. E depois tem os Aerosmith a fazerem uma versão fantástica de “Come Together”, que ainda hoje recriam ao vivo. E como diz a letra one thing I can tell you is you got to be free. É um dos nossos guilty pleasures favoritos. E um McBacon.Título: Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band
Realizador: Michael Schultz
Ano: 1978