Alfred Hitchcock foi um dos grandes realizadores de sempre e o seu lugar na galeria dos grandes mestres da sétima arte há muito que está garantido. E este Intriga Internacional foi um dos seus grandes êxitos. No entanto, como pode um filme ser tão díspar simultaneamente, visto que se por um lado atinge o genial e, por outro, acaba por roçar o ridículo?
Intriga Internacional é um filme que prova todo o potencial de Hitchcock como o mestre do suspense, num thriller de espionagem de intenso nível e de um ritmo alucinante. Hitchcock sacudiu os alicerces dos filmes de espiões na altura, fugindo dos filmes ingénuos e tendenciosos sobrea guerra fria da época. Para isso, realizou um filme de grande amplitude, o cinema total como alguém chamou um dia, com perseguições, cenas de acção brutais e uma intriga de mistério e suspense, que ainda hoje colhe as suas influências em filmes como O Jogo ou em praticamente tudo o que é filme-pipoca.
Cary Grant é Roger Tornhill, um empresário de Nova Iorque – mistura de John McClane e Steve McQueen -, que vai ser confundido com o espião fictício(?) Kaplan. Envolvido numa rede de espionagem de grande escala, Tornhill vai procurar por todos os meios provar a sua inocência, num jogo do rato e do gato por toda a América, qual James Bond acidental.
Com efeito, Hitchcock parece criar aqui um espião digno de qualquer James Bond, numa intensa perseguição, que, até pela época, faz lembrar o não menos genial Apanha-me Se Puderes. Intriga Internacional é um filme memorável (memorável como em ficar na memória, literalmente), principalmente pelas inúmeras cenas de acção, de elaborados recursos técnicos, sempre numa escala monumental (o que dizer da sequência final no Monte Rushmore), onde Hitchcock mantém o seu característico uso de planos arriscados. E depois há sempre a famosa e inesquecível sequência da perseguição pela plantação de milho, que Tornhill é alvo por parte de um avião, que já foi imitada e parodiada ene vezes.
No entanto, o filme também acaba por atingir o nível do ridículo se atentarmos por outro ângulo. Com efeito, Intriga Internacional seria possivelmente um vulgaríssimo blockbuster se fosse filmado por qualquer realizador menor. Com efeito, basta olharmos o guião com olhos de ver para percebermos que o filme apresenta falhas gigantescas e decisões exageradamente inacreditáveis – quem iria matar alguém, de modo a parecer acidente com um avião, por exemplo?
Por isso, Intriga Internacional é um filme para se ver na ausência da companhia do nosso cérebro. Ou seja, deixamo-nos envolver no ritmo alucinante do filme (o que não é nada complicado; ao fim dos primeiros cinco minutos já estamos no meio do frenesim da vida de Roger Tornhill) e vamos por ali fora. Se levar o seu cérebro quando for ver o filme, o aconselhado será mesmo um McChicken para a ementa. Se não for esse o caso, regale-se com um McRoyal Deluxe.
Título: North By Northwest
Realizador: Alfred Hitchcock
Ano: 1959