| CRÍTICAS | Bruiser – O Rosto da Vingança

George A. Romero inventou praticamente sozinho um subgénero do cinema: os filmes de zombies. E como zombies são coisas que metem medo, Romero foi logo elevado à condição de um dos mestres do terror. Por isso, mais ou menos como a pescada, antes de o ser já era; e quando fez filmes de terror ninguém ligou nenhuma. O seu estatuto de mestre do terror já estava consolidado e as pessoas só queriam saber dos filmes de zombies. Assim, depois de alguns horror movies que ninguém ligou patavina, Romero lá voltou ao franchising para alimentar o monstro que havia criado. Terra Dos Mortos e Diário Dos Mortos já pouca piada têm, mas finalmente foram sucessos de bilheteira.

Bruiser – O Rosto Da Vingança foi o último filme que Romero fez antes de regressar aos zombies. Apesar de ser um thriller psicológico e mindblowing – alguém o descreveu como o primo bonzinho de Veludo Azul -, os produtores promoveram o filme como mais um filme de terror do mestre do terror (sic) e não convenceram ninguém: Bruiser – O Rosto Da Vingança foi diretinho para dvd.

Henry Creedlow (Jason Flemyng) é então um tipo ordinário com uma vida banal e algo banana: a mulher mete-lhe os cornos enquanto lhe vai sugando todo o dinheiro para construir uma mega-mansão, o melhor amigo rouba-lhe dinheiro e o chefe é um parvalhão. Henry é espezinhado por toda a gente e parece uma panela de pressão prestes a explodir, com uns sonhos sociopatas cada vez mais frequentes em que assassina toda a gente que lhe pisa os calos.

Já vimos filmes assim. Em Um Dia De Raiva, Michael Douglas também era um tipo certinho que, farto de ser ultrapassado pela própria vida, explode e vai prestar contas com a sociedade com uma caçadeira nas mãos. Mas Bruiser – O Rosto Da Vingança tem um componente fantástico (por vezes cheira aquela aura muito especial da Quinta Dimensão, com aquela profundidade moral que as suas histórias de ficção-científica camuflavam) e, por isso, Henry vai acordar um dia sem cara. De tanto ser pisado, Henry perdeu a identidade. E ao ficar sem personalidade, vai passar-se e tentar recuperá-la, dando uma lição a todos o que o trataram mal. Uma lição sangrenta, claro.

A caracterização de Henry é fabulosa: com uma máscara branca daquelas que, de tão inexpressivas que são se tornam perturbadoras (olá Os Olhos Sem Rosto), mas que se funde com a sua própria pele, tornando-a assustadoramente real. Também há uma theme-song igualmente perturbadora, com uns gemidos de fundo, que a coloca ao nível de clássicos do género, como a de A Semente do Diabo, por exemplo, e que só peca por pouco aparecer. Outra coisa fabulosa de Bruiser – O Rosto Da Vingança são os Misfits a tocarem ao vivo (vénia), banda que apesar de ter terminado nos anos 80 quando Glen Danzig saiu (para quem não concorda, basta escutar os temas originais que fizeram de propósito para o filme, umas bombinhas de carnaval punkcore), continua a ser bem-vinda em qualquer lado.

Há algumas coisas fabulosas em Bruiser – O Rosto Da Vingança, mas mesmo assim não chega para ter um balanço positivo. Primeiro porque a envolver o filme está um humor negro em lume brando, que não aquece nem arrefece; e depois porque chegado a certo ponto, o argumento entra num beco sem saída, que descamba numa festa de máscaras gótico-barroca (a tal parte onde os Misfits aparecem a tocar), onde há um assassinato com um laser(!). A intenção de Bruiser – O Rosto Da Vingança é bem mais interessante que o resultado final, ficando-se num daqueles filmes inofensivos que roçam o Double Cheeseburger.

Título: Bruiser
Realizador: George A. Romero
Ano: 2000

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