Em O Tubarão, Steven Spielberg inaugurava uma nova tendência nos filmes de monstros, ao introduzir uma criatura bem real – um mortífero tubarão branco. De repente, os filmes de monstros tornavam-se duplamente mais assustadores, uma vez que a ameaça deixava de estar circunscrita ao imaginário da ficção. A partir daí assistiu-se a uma proliferação desses “monstros reais”: orcas, piranhas, ratazanas… E à medida que os títulos se sucediam, os responsáveis – excepto o Dino de Laurentis, que para estas coisas nunca teve grande tacto – iam-se apercebendo que a coisa não se podia levar muito a sério. Basta ver como o último grande filme deste género – o infame Piranha XXL – foi um deboche de irrisão.
Prey, o filme do holandês Dick Mass que liberta um leão devorador de homens em plena Amesterdão – sabe Deus como e porquê (como se isso interessasse para alguma coisa), sabe que o sucesso destes filmes de monstros esta nesse equilíbrio entre terror e humor. Inspirando-se em gente como Joe Dante, Mass sabe que deve ser parvo, sem ser ridículo, e que deve ser sério, sem ser sisudo. Por isso, por cada corpo caído em Prey existe duas piadas estúpidas e por cada jerrican de sangue derramado existe uma ideia absurda.
Por isso, lógica não é propriamente a primeira coisa a acorrer em Prey. Até porque o leão devorador de homens que anda à solta na capital holandesa é do domínio daquelas criaturas – nomeadamente tubarões – das produções da Asylum ou da SyFy. Ou seja, é um animal que não obedece necessariamente às leis da física (ou da biologia), movendo-se à velocidade do som e com força sobrenatural. Ao mesmo tempo, os polícias locais – auxiliados pela zóologa local, o namorado jornalista desta e o ex-namorado caçador de leões com menos uma perna e uma cadeira de rodas com lagartas(!) – tentam apanha-los das formas mais irreais, seja a contratar caçadores à parva, seja a pendurar cadáveres no meio do parque da cidade.
Dick Mass, espécie de primo xunga de Paul Verhoeven, tem uma longa carreira no cinema de série b e sabe como funcionam os dispositivos do género, doseando-os de forma equilibrada entre a irrisão do humor e o gore do horror movie. O seu leão, que tanto é um boneco mecânico que apenas mexe a boca como é feito digitalmente, só aparece a partir de meio, depois de meia-hora de sugestão, e é o pontapé de partida para o abandalhar de Prey, que chega ao final com um bodycounnt que inclui inclusive crianças (a morte de miúdos no cinema série b é sempre um tabu, exceptuando John Carpenter, claro), muitos litros de sangue despejados e vários membros decepados. Prey é um daqueles Double Cheeseburger que ainda vêm quase em sangue, mas que mesmo assim não nos importamos de repetir.
Título: Prooi
Realizador: Dick Maas
Ano: 2016