Depois de Florbela Espanca, Vicente Alves do Ó dá-nos Al Berto, o segundo filme de uma trilogia dedicada a poetas que o marcaram decisivamente. No entanto, enquanto Florbela era um biopic no sentido lato do termo, Al Berto centra-se apenas em três anos da vida do autor de O Medo: logo a seguir ao 25 de Abril, Al Berto regressa a Sines após estudar em Bruxelas, para revolucionar a pacata vila alentejana.
Al Berto é, portanto, um filme de época e um filme de adolescentes. Um grupo de miúdos que forma uma comunidade de descoberta artística e sexual, numa altura em que tudo parecia ser possível num país que descobria a liberdade, mas a qual ainda não tinha chegado totalmente a Sines, um meio pequeno e ainda muito conservador. E, portanto, aqueles adolescentes vão acabar por sofrer com aquilo, por estarem demasiado à frente do seu tempo.
E é, sobretudo, uma história de amor, daquelas que ou conquistam ou destroem tudo. É a história de amor entre Al Berto (Ricardo Teixeira) e João Maria (José Pimentão), dois filhos da terra, o primeiro de uma família de posses e o segundo de uma família de comunistas ilustres (o seu irmão seria o primeiro presidente da câmara de Sines em democracia), numa vila que não estava preparada para uma relação homossexual, mesmo que se estivesse finalmente em liberdade e tudo parecesse ser possível na pós-Abrilada.
Al Berto era, portanto, uma história demasiado importante para ficar sem ser contada. Mas vê-se o filme e nunca se fica com a ideia de que é isto que estamos a ver. Porque Vicente Alves do Ó limita-se a coleccionar uma série de vinhetas sobre a vida do poeta, a vida dos jovens que formam a sua “gangue” e sobre a realidade sineense da altura, colando-as umas a seguir às outras sem grande arrojo, cosendo estes postais com diálogos, por vezes, demasiado… literários, e com várias cenas de sexo que parecem querer retratar a relação amorosa arrebatadora entre os dois.
A recriação da época é o melhor de Al Berto, a banda-sonora é impecável (afinal de contas, uma banda-sonora com Xarhanga tem que ser sempre realçada), mas o filme nunca escapa a um ar telenovesco, que não lhe faz jus. É por isso que o Happy Meal sabe a pouco.Título: Al Berto
Realizador: Vicente Alves do Ó
Ano: 2017