Depois de ter apenas aparecido 5 minutos em Batman vs Super-Homem – O Despertar da Justiça e ter roubado completamente o filme para si, estava toda a gente em pulgas para ver a Mulher-Maravilha num filme em nome próprio. Até eu estava, confesso, mesmo sendo uma heroína que nunca me disse nada – um pouco como toda a DC em geral. Além disso, quando estreou as críticas maiores foram para o facto de ter os sovacos depilados. Quer dizer, se a pior coisa que viram num filme todo foi o facto de como é que uma Amazona fazia a depilação, então é muito bom sinal.
Como todos os filmes inaugurais, Mulher-Maravilha começa pela origem da super-heroína, recuando inclusive até aos tempos em que era uma criança. A Muher-Maravilha, ou seja, Diana, é filha de Hipólita, a rainha das Amazonas, mulheres guerreiras criadas por Zeus, o pai de todos os deuses helénicos, para protegerem o mundo da ameaça do deus da Guerra, Ares. Para isso, vivem todas em Temiscira, uma paradisíaca ilha em que menino não entra e onde Diana acaba por ser treinada pela Robin Wright (cada vez mais estabelecida como grande figura feminina dos nossos tempos), sem saber muito bem qual o seu destino.
Depois entra em cena Chris Pine, um piloto norte-americano da Primeira Grande Guerra, e Diana vai acompanha-lo para ajudar a colocar um ponto final ao conflito, derrotar os alemães e uma terrível cientista que está a inventar uma variante ainda mais mortal do gás mostarda e ajudar a Tripla Entente a sair vitoriosa. Ou seja, Mulher-Maravilha é um Super-Homem goes Capitão América – O Primeiro Vingador, mas com a primeira em vez da segunda grande guerra. O que até é interessante, tendo em conta que existem menos filmes sobre este confronto do que do outro.
Sendo uma espécie de versão feminina do Homem de Aço, é normal que existam semelhanças entre a Muher-Maravilha e o Super-Homem. Começando logo pelo facto de ser ela também um herói totalmente oposto à grande maioria da galeria de super-heróis; enquanto esses são homens que assumem um alter-ego heróico, a Mulher-Maravilha é uma heroína que assume como alter-ego a identidade secreta de uma mulher comum. É que ela não é humana e, como tal, quando contacta com a humanidade vai enfrentar um choque cultural. É uma espécie de efeito de o bom selvagem, uma mulher que chega de outra realidade completamente diferente e que tem que aprender e descobrir não só uma nova tecnologia, como novos hábitos e costumes. E onde a solidariedade, o bom-senso ou a cidadania não são valores garantidos como deveriam ser.
Essa é a melhor parte de Mulher-Maravilha, até porque Gal Gadot (a quem o fato cai que nem uma luva; mas também é verdade que qualquer trapinho lhe fica bem) fá-lo com grande elegância, alternando a fragilidade de quem acaba de chegar a uma realidade completamente distinta da que estava habituada com a fúria de uma guerreira implacável. Tem havido, inclusive, várias comparações entre Gadot e Cristopher Reeves e estas não são disparatadas. Basicamente, ela tem personalidade suficiente para usar o fato e não ser o fato a usa-la a ela. O que faz com Mulher-Maravilha seja, mesmo que não quisesse, um filme cheio de girl power. Não é por acaso que foi convocada para a cadeira de realizador Patty Jenkins, a autora de Monstro, o filme que deu o Oscar a Charlize Theron. E porque é que a Mulher-Maravilha tem os sovacos depilados? Porque quer, ora essa.
O problema de Mulher-Maravilha é a segunda parte, aquela de quando entra em modo de filme de porrada. E nem sequer tem a ver com as sequências de acção, que Jenkins coreografa com grande elegância e edita de forma a conseguirmos de facto percebe-las, algo que nem sempre acontece nos blockbusters recentes. O problema é que esta parte do filme não tem tempo suficiente para se desenvolver e escapar a uma trama básica (chega a fazer lembrar Ultra Secreto pela facilidade com que tudo se desenrola), com vilões que aparecem a conta-gotas e não têm dimensão suficiente para serem dignos desse papel. Se era tudo assim tão fácil, não se percebe como é que a Primeira Guerra Mundial demorou 4 anos e envolveu mais de 20 países… Mas Mulher-Maravilha é um digno filme de estreia de mais um franchise que promete esticar a corda até esta partir, mesmo que o Double Cheeseburger possa não parecer.
Título: Wonder Woman
Realizador: Patty Jenkins
Ano: 2017