| CRÍTICAS | O Homem do Volante

O realizador Jeremy Rush andou certamente a ver o Locke. Tal como nesse filme, que se passa inteiramente no interior de um carro enquanto o Tom Hardy conduz e vai telefonando a pessoas para resolver uns assuntos pessoais, O Homem do Volante segue Frank Grillo como condutor de fuga de um assalto a um banco que não corre como planeado. A diferença entre Locke e O Homem do Volante está precisamente aí: neste último, o protagonista tem que fazer pela vida para sobreviver. É como o Locke, mas em versão filme de acção.

Pensávamos que o género do condutor de fuga tinha ficado mais do que esgotado depois do franchise de Correio de Risco, mas este ano já tivemos o Baby Driver – Alta Velocidade para nos provar que há vida após o Jason Statham. E esta enésima variação do género não só é arriscada, como é interessante. Principalmente, porque paralelamente ao assalto e ao dinheiro na mala do carro que Frank Grillo tem que resolver o que fazer, existe a parte familiar: uma filha adolescente sozinha em casa, prestes a fazer queixinhas à mãe se o namorado não puder ir lá ver um filme. Ou seja, arriscar a custódia partilhada da filha ou deixar dois jovens com as hormonas aos saltos sozinhos em casa?


No entanto, Jeremy Rush nunca se preocupa tanto com o argumento como se preocupa com a forma de O Homem do Volante, que é todo ele um exercício de estilo. E não é que seja um exercício falhado. Rush mantém a câmara sempre no carro, inclusive nos momentos breves em que Grillo tem de sair, ficando fixa no banco de trás e acompanhando o que se passa ao de longe. Além disso, o carro e o seu interior é a única coisa que realmente interessa ao realizador, que nunca dá uma panorâmica ou uma imagem da cidade, que pode ser qualquer uma, tanto nos Estados Unidos como em Portugal. Sabemos apenas que está de noite (o que nos leva à pergunta que raio de banco está aberto à noite?) e que chove. Tudo o resto é altamente estilizado, com as luzes reflectidas no carro e a caixa de velocidades a ronronar enquanto o carro desliza pelo alcatrão.

O problema é que Jeremy Rush não consegue manter aquilo a que se propõe e, já perto do final, sai do automóvel e O Homem do Volante tem ali momentos em que se torna em mais um banal filme de acção, igual a mil e quinhentos outros. Felizmente, Frank Grillo há de voltar rapidamente ao carro e regressar a casa, depois de tudo resolvido. E nós podemos ir terminar o McChicken calmamente.Título: Wheelman
Realizador: Jeremy Rush
Ano: 2017

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