| CRÍTICAS | Porto

Ai o Porto, o Porto…
Desde que a Ryanair assentou arraiais na Invicta, que a cidade se tornou num dos principais destinos europeus, atraindo milhares de turistas todos os anos. Os hosteis e os bares multiplicaram-se como cogumelos e o Porto passou a estar na moda como nunca. Por isso, nada a estranhar quando nos chega às salas um filme rodado e passado inteiramente no Porto, chamado precisamente… Porto, que é uma co-produção de quatro países com actores internacionais (incluindo a última presença do russo Anton Yelchin, entretanto desaparecido precocemente em situação… caricata).

Porto começa com uma declaração de amor entre Anton Yelchin e Lucie *suspiro* Lucas e prevemos estar diante de uma espécie de versão do Antes do Amanhecer. Mas não podíamos estar mais enganados. Primeiro, porque Porto é um filme de interiores, que pouca atenção presta à cidade turística e aos seus marcos de postal de férias (exceptuando um par de planos iniciais, todos eles na zona de São Bento); e depois porque salta imediatamente para o casal em crise e nós percebemos que a coisa não vai ser nenhum conto de fadas.

Dividido em três actos, cada um deles dedicado a um dos protagonistas – e o último a ambos enquanto casal -, Porto conta a história de como ambos se conheceram, de forma mais ou menos fortuita, se envolveram e acabaram afastados. Fá-lo sem dar respostas ao que quer que seja, com o realizador Gabe Klinger a assumir uma postura quase de observador circunstancial, contando a história – que avança e recua em diferentes planos temporais aos quais temos que nos habituar inicialmente – do ponto de vista de cada uma das metades do par, como que a lembrar-nos que, para qualquer história, há sempre (pelo menos) duas versões, que podem ser diferentes, mas igualmente verdadeiras. Só não se percebe bem é porque é que Yelchin é sempre tão… creepy. Parece mais um violador do que alguém por quem uma bela francesa se vai apaixonar numa noite pelo Porto.

Porto é, portanto, um pequeno filme independente, filmado de forma quase artesanal, em película, que lhe dá uma textura e uma luz muito própria. Uma espécie de patine granulada, que lhe fica bem e ajuda a transmitir atmosfera. Faz lembrar o Blue Valentine – Só Tu e Eu, mas em versão caseira. Não vai revolucionar o mundo, mas Porto é um filme diferente da maioria dos filmes românticos que vai ver nos próximos tempos e só isso vale-lhe o McChicken, com batata frita extra pela simpatia.

Título: Porto
Realizador: Gabe Klinger
Ano: 2016

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