| CRÍTICAS | Knock Off – Embate

Parece que há um fenómeno geral de esquecimento de que Knock Off – Embate, o filme que Van Damme fez em Hong Kong, existe. Talvez porque esse é um dos seus poucos (único?) títulos que não encaixa no molde alguém lhe mata/rapta/magoa um familiar/amigo/vizinho and it’s payback time.

Hark Tsui é um prolífero realizador da cena cinematográfica de Hong Kong, conhecida pelos seus filmes de porrada (famosa por ter revelado gente como Bruce Lee, Sammo Hung ou os Five Venoms, quase todos eles sob a alçada dos estúdios Shaw Brothers), que resolvera tentar a sua sorte em Hollywood. No entanto, bastou-lhe um filme para perceber que estaria condenado a ser uma mera marioneta nas mãos dos estúdios, que põem e dispõem. Por isso, depois da uber xungaria Duplo Team – o filme em que alguém achou que era boa ideia juntar Van Damme e Dennis Rodman -, Hark Tsui arrumou a trouxa, voltou para Hong Kong e levou o belga com ele, para mostrar ao mundo como se faz um bom filme de acção escapista e desmiolado.

O pretexto não podia ser melhor. Hong Kong passava da coroa inglesa para a soberania chinesa e até há algumas imagens reais da cerimónia que decorreu em 1997. Em primeiro plano decorre uma trama policial, que envolve os russos e uma nova tecnologia que nano-bombas que estes pretendem disseminar pelo mundo fora em brinquedos e pequenos electrodomésticos, que chega a Hong Kong escondidas em… calças de ganga. A polícia local e a CIA vão então aliar-se a Van Damme e Rob Schneider, dois contrabandistas e falsificadores (se bem que a sinopse oficial diz que são estilistas de moda, o que seria bem melhor).

A história tenta dar alguns twists e contra-twists, mas nada disso é importante, porque o que realmente interessa são as cenas de pancadaria. Rob Schneider está lá para o comic relief e, como sempre, consegue ser mais irritante do que engraçado (ele que, logo depois, teria o auge da sua carreira, com um par de filmes babaca, para logo a seguir ser varrido da nossa memória para sempre, felizmente), e há ainda Lela Rochon, para meia-dúzia de momentos gratuito em que mostra demasiado o cleavage. Infelizmente não existe nenhuma sequência de acção verdadeiramente memorável, até porque as coreografias das lutas, orquestradas por Sammo Hung (vénia), acabaram retalhadas no chão da sala de edição. E as melhores acrobacias de Van Damme acabam por ser feitas por duplos do actor. Mesmo assim, ainda há um tiroteio num barco alagado, cheio de escorregadelas, que tem a sua piada.

A melhor coisa de Knock Off – Embate acaba por ser a boa disposição e o savoir fair de Hark Tsui, que filma tudo com um grande à vontade, planos mirabolantes, câmaras metidas nos sítios mais improváveis (dentro de um sapato, a sério?), câmaras lentas completamente inesperadas e muitos efeitos especiais que já não eram usados desde 1982, quando ainda se chamava cinema electrónico ao digital. Essa bonacheirice acaba por passar para os actores, que parece não se importarem e que estavam verdadeiramente a divertirem-se com aquilo tudo. Só assim se justifica a cena em que Van Damme e Rob Schneider participam numa corrida de riquexós(!), com o primeiro a açoitar o rabo do segundo(!!) com um atum(!!!).  Ou então, a quantidade de vezes que o belga aparece de cuecas.

Knock Off – Embate é um flick que mas sai do molde de todos os filmes de Jean-Claude Van Damme. Isso não significa que seja necessariamente o melhor, mas nem que seja pela diferença já vale a pena provar o Cheeseburger. No entanto, façam-no por vossa conta e responsabilidade.

Título: Knock Off
Realizador: Hark Tsui
Ano: 1998

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