Apesar de Arma Mortífera ser o momento caramelo, os anos 80 foram férteis em buddy movies. E depois de Eddie Murphy, uma das maiores estrelas dessa década, ter provado que dava conta do recado em 48 Horas (filme que entrava apenas ao fim de meia-hora e ainda o roubava totalmente para si), alguém decidiu promove-lo a protagonista do seu próprio flick.
No entanto, O Caça Polícias não é tanto um buddy movie na verdadeira definição do género. Ou pelo menos como o são as suas duas sequelas. Em O Caça Polícias, Eddie Murphy é um polícia de Detroit, daqueles que não liga muito às regras e à hierarquia, e que por isso tem sempre as chefias à perna. Quando um dos seus amigos acaba executado a sangue frio, Eddie Murphy vai por conta própria para Beverly Hills, para descobrir quem foram os culpados.
No buddy movie o truque reside no emparelhamento. Quanto mais improvável, melhor. Mas em O Caça Polícias, o choque é entre aquele polícia das ruas e todo o ambiente de alta roda de Beverly Hills, da mesma forma que Will Smith foi uma pedra na engrenagem na alta sociedade dos seus tios, em O Príncipe de Bel-Air. O que não estávamos à espera é que os polícias de Beverly Hills fossem tão coninhas, uns betinhos de primeira, dos quais Eddie Murphy faz gato-sapato, incluindo a famosa cena em que os deixa apeados depois de enfiar uma banana no tubo de escape do seu carro.
Portanto, O Caça Polícias tem duas coisas: um protagonista em estado d graça, Eddie Murphy; e um cenário que podia funcionar, o do vagabundo num berço de ouro. Faltava apenas o argumento, mas Martin Brest e os produtores acharam que não valia a pena. Bastava confiar no poder de improvisação de Murphy (que improvisou a maioria das cenas e dos diálogos), tremer um bocadinho a câmara e arranjar uma theme song para embrulhar tudo (e que, por acaso, até é uma das melhores theme songs de todo o sempre, com aquela progressão de acordes em sintetizador, tão simples e tão bom!).
O que é estranho e ninguém percebe é como é que isto resulta. O Caça Polícias é o Eddie Murphy-one man show, em que ele prepara a festa, atira os foguetes e ainda recolhe as canas. E nós vamos para a farra com ele, naquele ambiente feelgood muito típico dos anos 80, que permite fazer dum filme em que os maus são metralhados até parecerem um passvit num flick para toda a família. Já não se fazem McChickens assim.
Título: Beverly Hills Cop
Realizador: Martin Brest
Ano: 1984