Existem filmes assim, que ao fim de 5 minutos já sabemos como vai acabar (neste caso específico de Melhor é Impossível são 2 horas e meia desnecessárias). E, mesmo assim, consegue agarrar-nos com mais força do que a maioria dos filmes espertalhões, que nos tentam convencer com twists e contra-twists e outras muletas narrativas.
Ora bem, mal começa Melhor é Impossível e já percebemos onde é que tudo vai parar. Jack Nicholson é um tipo com um mau feitio do caraças, altamente racista e homofóbico (depois descobrimos que sofre de uma desordem obsessivo-compulsivo, mas hey, a doença não desculpa tudo, não é?), que em menos de 5 minutos já enfiou o cão do vizinho (Greg Kinnear) na conduta do lixo, gozou com a sua orientação sexual e ofendeu o seu namorado (Cuba Gooding Jr.). O final é inevitável: Nicholson vai ter uma epifania e vai perdoar o vizinho em particular, os homossexuais em geral, os negros, as mulheres e os animais. Portanto, só falta descobrir como é que vai ser essa viagem.
Depois de ser atacado e assaltado na própria casa por um bando de meliantes à Laranja Mecânica, Greg Kinnear fica sem nada, até porque Cuba Gooding Jr. desaparece misteriosamente de cena. Noutra opção narrativa deficiente por omissão, Jack Nicholson apega-se ao cão de Kinnear e, consequentemente, acaba por se aproximar do vizinho. Entretanto, no restaurante onde vai sempre almoçar, Nicholson vê-se obrigado a pagar o tratamento crónico d asma do filho da empregada, Helen Hunt, para que ela não tenha que faltar ao emprego. É que ele, com o seu trauma obsessivo-compulsivo, só aceita ser atendido por uma pessoa. E daqui até se envolverem todos num triângulo de amizade e amor é um pulo.
Billy Wilder teria feito uma obra-prima com este material, entre a comédia romântica e a química screwball. Além do mais, ter actores desta categoria é ouro. Jack Nicholson começava aqui a sua transição para herói de meia-idade, que iria cristalizar em As Confissões de Schmidt, e Helen Hunt, que também ganharia o Oscar (tal como em Voando Sobre um Ninho de Cucos, Jack Nicholson venceria o Oscar de melhor actor no mesmo filme que também arrecadaria o e melhor actriz), esfrega-nos na cara que é alguém que nunca teve propriamente os filmes que merecia.
No entanto, o realizador James L. Brooks parece sempre esforçar-se em demasia por querer fazer à maneira de, em vez de se limitar a realizar o seu próprio filme. Nesse seu alento em seguir fórmulas acaba por ficar a impressão que tentar forçar o filme a ir por caminhos que não queria ir e a tentar colocar o Rossio na Betesga, quando os melhores momentos é quando deixa os actores terem liberdade para as suas personagens seguirem o seu próprio caminho. Daí que as duas horas e meia pareçam manifestamente desnecessárias ou algumas opções narrativas sejam estranhas (como o tal desaparecimento de Cuba Gooding Jr.). E, mesmo assim, o Double Cheeseburger de Melhor é Impossível é melhor que a maioria das coisas que tentam parecer super-originais, hipsters e cool. Título: As Good as it Gets
Realizador: James L. Brooks
Ano: 1997