| CRÍTICAS | Gatos

abre com uma mensagem que explica que na cidade turca de Istanbul os gatos convivem na rua com os humanos, funcionando praticamente como uma metáfora do próprio país. E que este filme é um olhar da Turquia em geral e de Istanbul em particular a partir do olhar desses gatos de rua. O que, à partida, é uma forma tão válida de analisar uma cidade como outra qualquer.

Gatos acompanha então o dia-a-dia de vários gatos vadios de Istanbul e da sua relação com aquilo a que podemos chamar de donos – humanos que vão cuidando de si dentro do possível, ou seja, dentro daquilo que os próprios gatos deixam. Porque como todos sabemos, os gatos quando percebem que os humanos lhes dão comida, abrigo e carinho de forma subserviente, concluem logo que é por serem deuses. E não estão muito enganados.

As histórias são filmadas com planos muito bonitos, todos eles dignos de um postal de férias ou de um vídeo turístico financiado pelo governo turco (com o recurso a muitos drones), sendo todas tão breves quanto o próprio filme em si. E o que dizem aqueles gatos da Turquia e de Instanbul em geral? Bem, no fundo, praticamente nada. Ou melhor, não dizem mais do que poderiam dizer de Barcelona, Damasco, Santa Comba Dão ou da Atlântida. A excepção é um tipo que explica porque há bosques noruegueses abandonados nas ruas de Istanbul, numa espécie de aula de história super-resumida, ou um outro que teve uma epifania com gatos e que passou a tratar deles como trata do seus próprio filhos.

Tudo o resto são… vídeos de gatos, como aqueles que nos enchem o mural do facebook, só que mais bem filmados. E há algum mal nisso? Não, nenhum. Se for uma crazy cat lady, provavelmente irá ter orgasmos a ver Gatos; e se for um cat hater, sairá da sala ao fim de 15 minutos. No entanto, dizer que Gatos é um olhar da Turquia pelos olhos dos seus gatos soa apenas a desculpa para justificar um longo vídeo de gatos no grande ecrã em vez do habitual suporte do youtube. Até porque o gesto político com mais significado em todo o filme é quando é filmado nas paredes de forma fortuita alguns pichamentos a dizer Erdo Gone. Eu, que gosto de gatos – e até tenho o mais bonito de todos eles -, sinto-me com autoridade suficiente para dizer que, enquanto cinema, não merece mais do que um Double Cheeseburger.

Título: Kedi
Realizador: Ceyda Torun
Ano: 2016

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