| CRÍTICAS | The Outsider

Numa altura em que Hollywood anda a tentar achinesar-se à força toda, cobiçando esse novo e apetecível mercado que é o chinês, o Netflix mantém a sua tendência de ir contra a corrente e enviou Jared Leto para o Japão. O filme chama-se The Outsider e, depois de ter tido Takashi Miike e Tom Hardy falados para realizador e protagonista, respectivamente, acabou por ser entregue a Martin Zandvliet e Jared Leto, no maior turn off de 2018 (que ainda agora começou).

The Outsider tem grandes ambições, já que começa logo por se auto-intitular como um épico no Japão, sobre um norte-americano (adivinhem quem?) que se junta à yakuza. Ou seja, The Outsider quer ser O Padrinho, mas da máfia japonesa. No entanto, a semelhança entre esse e este, além do facto de todos andarem impecavelmente bem vestidos, é apenas e só a duração.

Quando o filme arranca, já Jared Leto está preso no Japão, se nunca saber porquê. Não sabemos se esse desconhecimento é propositado por qualquer efeito dramático, mas tendo em conta que, já perto do final, esse passado vai surgir no filme numa cena completamente metida a martelo (numa cena com a participação de Emile Hirsch), mais valia não terem feito tanto segredo sobre isso. Leto vai salvar Tadanobu Asano de uma emboscada na prisão e, por isso, quando sai tem a yakuza à sua espera, de braços abertos, para o integrarem como um dos seus. Até porque ele é uma máquina de matar maquinal e quase sempre muito gráfico.

O filme movimenta-se num ritmo muito próprio, até para combinar com os rituais protocolares da yakuza. Aliás, a melhor cena do filme é precisamente quando Leto e Asano sacrificam uns dedos em respeito pelo chefe da família. Jared Leto, com o seu ar andrógino, acompanha este ritmo lento com uma inexpressão que faz o Keanu Reeves ganhar toda uma versatilidade dramática que nunca pensámos que pudesse vir a ter.

Além do erro de casting, o realizador Martin Zandvliet falha em todo o campo em manter The Outsider dentro de uma qualquer relevância mínima. O arco narrativo sair completamente fora de controlo, com Leto a passar de uma cena para outra de não saber uma palavra de japonês até dominar por completo a língua, por exemplo. Além disso, o facto do (anti)herói da intriga ser ocidental não adianta absolutamente nada ao filme, dando-lhe um ar do complexo do herói branco que vem salvar a parada (olá O Último Samurai, como estás?).

O Netflix continua a surpreender-nos com as suas propostas, sem medo de arriscar e de dar carta branca a realizadores e actores. Mas nem todas as decisões são boas, não é? Este Happy Meal é a prova disso.Título: The Outsider
Realizador: Martin Zandvliet
Ano: 2018

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